- 16/06/2025
Um dos motivos que levaram a Sociedade Brasileira de Queimaduras colocar como tema central da campanha Junho Laranja 2025 a violência contra mulher é a quase inexistência de dados relacionados a atendimentos de vítimas que tiveram como consequência as queimaduras. E isso não é um problema somente do Brasil.
A enfermeira doutora Raquel Pan, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), vem estudando o assunto desde 2018, dentro do Comitê de Prevenção da International Society for Burn Injury (ISBI). Naquela época participaram pesquisadores da Austrália, do Canadá e do Brasil, fazendo uma revisão sobre as violências contra a mulher e meninas por queimaduras no mundo.
“A partir daí, a gente começou a fazer outros estudos, inclusive, de notificação. Só que no sistema a gente não consegue identificar exatamente os dados de violências contra a mulher por queimaduras, então esses dados são subestimados”, destaca Pan.
Diante disso, ela e outras pesquisadoras estão desenvolvendo um estudo para investigar os casos de violência contra mulher por queimaduras atendidos em diferentes unidades de saúde no Brasil. A intenção é que a coleta de dados com profissionais da saúde seja divulgada ainda neste mês de conscientização e luta contra queimaduras.
“É necessário promover a conscientização de profissionais de saúde em todos os níveis de atenção e não somente naqueles especializados em atender vítimas de queimaduras. E quando se trata de violência doméstica, a gente ainda enfrenta outra questão, que é a resistência das vítimas em informar o que provocou as queimaduras e denunciar", frisa Raquel Pan.
A subnotificação, porém, não se resume apenas aos casos de queimaduras em vítimas de violência doméstica. “O ideal é que as queimaduras tivessem banco de dados específicos, com detalhamento do acidente, agente etiológico específico, tempo para atendimento e outras informações relevantes”, elenca o representante interinstitucional da SBQ e cirurgião, José Adorno.
Ele conta que já tentaram avançar neste sentido e chegou-se a validar um questionário específico para que fosse captado nos centros especializados em tratamentos de queimaduras, mas esbarraram em algumas dificuldades como falta de recurso específico para manter pessoal destinado à função.
A subnotificação de casos de queimaduras pode ter implicações importantes, como: dificultar a avaliação da magnitude e da distribuição geográfica das queimaduras, bem como a identificação das causas e dos fatores de risco associados e prejudicar o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e controle das queimaduras.
A SBQ, na pessoa de José Adorno, em parceria com o professor Sérgio Fernandes, trabalha no projeto Mineração de Dados Epidemiológicos em rede de assistência integrada para tentar solucionar ou minimizar a questão da subnotificação de dados. “Enfim, apesar de reconhecer essa fragilidade, o que temos mesmo são os dados do Datasus e os estudos segmentados populacionais publicados”, finaliza Adorno.