Fala, presidente: Rogério Noronha está a frente da SBQ Minas Gerais

- 21/11/2025

Pela é a primeira vez integrando, formalmente, a diretoria regional em um cargo executivo na Sociedade Brasileira de queimaduras, o presidente da regional Minas Gerais, Rogério Noronha, conheceu a SBQ ainda durante a residência, quando participou dos primeiros congressos nacionais.

Para ele, estar presidente de uma regional da SBQ representa uma grande responsabilidade e, também, uma oportunidade de contribuir de maneira mais efetiva para o fortalecimento da sociedade no estado.

SBQ- Poderia nos contar sua trajetória até chegar a atender vítimas de queimaduras?

Rogério Noronha - Desde o início da minha formação médica, sempre me interessei por reconstrução e reabilitação. Graduei em 1988, na UFMG, me especializando em Cirurgia Geral e posteriormente em Cirurgia Plástica no Hospital das Clínicas da UFMG.

Durante minha residência em Cirurgia Plástica, tive contato direto com pacientes queimados e percebi a complexidade do cuidado envolvido: não se trata apenas de reparar tecidos, mas de reconstruir autoestima, funcionalidade e qualidade de vida. Com o tempo, aprofundei minha atuação em cirurgia reparadora e tratamento de feridas complexas, o que naturalmente me levou à abordagem integral dos pacientes vítimas de queimaduras.

Hoje, coordeno um centro especializado que une cirurgia plástica, curativos avançados e oxigenoterapia hiperbárica, em parceria com equipes multiprofissionais. Este centro é ambulatorial, mas situado em um hospital onde temos um CTQ privado, referência regional para a saúde suplementar.

SBQ- Poderia destacar algo da sua atuação profissional?

Assumi a coordenação do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Odilon Behrens, onde já éramos cirurgiões do trauma. Em 2001, participamos do planejamento e execução do atendimento às vítimas do episódio do Canecão Mineiro (incêndio em uma casa de shows com centenas de vítimas). Nos tornamos administradores hospitalares pela UERJ, exercemos a direção do mesmo hospital e de outras unidades de urgência de Belo Horizonte.

Há mais de 20 anos somos reguladores e referência técnica da Cirurgia Plástica. É importante salientar que desde 2021 passamos a atuar como reguladores do acesso de queimados ao HJXXIII, em um sistema de ranking clínico ao qual chamamos “matriciamento”, realizado em parceria com o Hospital João XXIII e que tem sido reconhecido como estratégia técnica de qualificação e equidade no acesso.

 

SBQ- Como conheceu a SBQ?

Conheci a Sociedade Brasileira de Queimaduras ainda durante a residência e me filiei há alguns anos, já como gestor de redes assistenciais, interessado em estreitar os laços com a Sociedade, já que com o passar dos anos, a SBQ se tornou uma referência para mim — um espaço de aprendizado contínuo, integração e fortalecimento de práticas baseadas em evidências no cuidado a pacientes queimados. E com forte impacto social na sociedade como um todo, visto a alta prevalência das queimaduras.

 

SBQ- O que te motivou a fazer parte da diretoria e se candidatar para a presidência regional?

Acredito que a SBQ cumpre um papel essencial não apenas na formação científica dos profissionais, mas também na articulação entre instituições e na formulação das políticas públicas voltadas à prevenção e ao tratamento de queimaduras.

Minha motivação principal é atuar na concepção e formulação técnico-administrativa das RAS (Redes de Atenção à Saúde) em Queimados, tão necessário para preencher o vazio assistencial na atenção ao queimado, em especial para descentralizar geograficamente a assistência, além de desafogar os poucos CTQ´s existentes. É uma dívida de 2 décadas, desde as portarias de 2000 e 2002.

Também é necessário aproximar ainda mais os serviços, estimular a educação continuada e disseminar esta urgência de ampliação de redes regionais de atendimento e prevenção — especialmente em um estado com dimensões e desigualdades como Minas Gerais.

SBQ-  Quais são as maiores dificuldades para lidar com queimaduras no Estado, tanto de prevenção quanto de atendimento a vítimas?

As principais dificuldades envolvem a distribuição desigual dos recursos especializados e a falta de estrutura adequada em algumas regiões para o atendimento inicial, que motivou a idealização do sistema de matriciamento de queimados, uma parceria da Prefeitura de Belo Horizonte com a Rede FHEMIG, em especial com o Hospital João XXIII.

Além disso, a prevenção ainda carece de campanhas permanentes, que sensibilizem a população sobre riscos domésticos e ocupacionais.

No tratamento, persistem desafios relacionados à referência e contrarreferência, bem como à capacitação das equipes de urgência e atenção básica, que são as primeiras a atender essas vítimas.

E poderíamos dizer que evoluímos muito na rede de atenção ao trauma, mas falta a concepção da rede de atenção aos sequelados. Também podemos citar a necessidade de fomentar redes suplementares e privadas de atenção ao queimado, assim como a necessidade de rever a livre venda de álcool, assim como a necessidade de prevenção especializada nos casos muito frequentes de TAE ( tentativa de auto-extermínio).

 

SBQ- Como a SBQ pode atuar para tentar melhorar essas coisas? Como tem atuado?

A SBQ tem exercido seu papel de liderança técnica e educativa. Regionalmente, buscamos promover cursos de atualização, eventos científicos e capacitações práticas para equipes multidisciplinares. Também temos procurado estreitar o diálogo com gestores públicos, universidades e hospitais, para propor protocolos unificados de atendimento e ampliar o acesso a insumos e tecnologias.

Na prevenção, apoiamos campanhas nacionais e adaptamos materiais educativos à realidade local, especialmente nas datas alusivas ao Dia Nacional de Prevenção de Queimaduras. Entretanto, considero que, como Sociedade respeitada nacional e internacionalmente, a maior atuação é fomentar as discussões com gestores, políticos e, principalmente, o corpo técnico dos órgãos que têm a governabilidade para as mudanças necessárias, em especial da RAS-Queimados.

 

SBQ-  Tem algum projeto da SBQ regional ou de membros da diretoria regional que você gostaria de destacar por relevância no trabalho com queimaduras?

Sim, neste último trimestre do ano já estamos fomentando, a nível municipal, as primeiras tratativas para que possamos construir uma rede assistencial de atenção aos sequelados. E no ano de 2026, pretendemos propor um acordo de cooperação entre CTQ´s públicos e os privados, fomentando um melhor entendimento da importância da incorporação tecnológica, da cobertura assistencial por parte da saúde suplementar, visto que, em geral, a mesma não se capacitou e/ou estruturou como a rede pública.

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