- 13/08/2020
O grande desafio, porém, é conseguir ofertar a demanda nutricional que este perfil de paciente exige
O atendimento ao paciente queimado é desafiador em vários aspectos. Por isso, a atenção multidisciplinar é tão importante para quem está se recuperando. Neste sentido, a nutrição tem um papel fundamental. E foi este assunto que se discutiu na reunião do SIG Queimaduras, nesta quinta-feira (13).
Foram pontuados, principalmente, os desafios da terapia nutricional em queimados. A apresentação ficou por conta da médica Rachel Daher, especialista em terapia nutricional em cuidados intensivos, e do presidente do Comitê de Terapia Nutricional da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Rodrigo Costa Gonçalves.
“O grande desafio da terapia nutricional no paciente queimado é conseguir ofertar a demanda nutricional que este perfil de paciente exige. Além da necessidade ser alta, existem muitos fatores associados ao tratamento do paciente que influenciam nesta oferta. Com frequência, a dieta é suspensa devido à necessidade de reabordagens cirúrgicas, curativos extensos e outras complicações”, frisa Rachel.
Ela destaca que a avaliação nutricional no paciente queimado é um desafio por várias razões. “As equações existentes para avaliar a necessidade nutricional são ineficazes. Além disso, a avaliação de peso é imprecisa, tanto em decorrência de dificuldade técnica, quanto por balanços hídricos demasiadamente positivos”, detalha.
A recomendação atual é que as necessidades nutricionais sejam calculadas por meio da calorimetria indireta, mas, infelizmente, esta não é uma realidade na grande maioria dos serviços.
Segundo a profissional, de uma maneira geral, o paciente queimado apresenta uma intensa e prolongada inflamação e catabolismo, fazendo com que o consumo de proteína e energia sejam altos, gerando uma alta demanda nutricional. “Além de macronutrientes, há alta demanda de polivitamínicos, que ultrapassa o que habitualmente é fornecido na dieta oral ou enteral”, completa.
As necessidades nutricionais do paciente queimado, tanto calóricas quanto proteicas, variam de acordo com a porcentagem de superfície queimada e com a fase da doença em que se encontra. De acordo com Rachel, quanto maior a extensão de superfície queimada, maior é esta demanda.
NUTRIÇÃO - É importante que a nutrição seja calculada e fornecida de acordo com a necessidade do paciente naquele momento. “Em fases muito iniciais, onde há instabilidade hemodinâmica, a hiperalimentação é um risco. A medida que o paciente estabiliza e permanece hipercatabólico, a demanda nutricional também aumenta. Por isso, é importante que esse paciente seja avaliado diariamente, inclusive com reavaliação de superfície queimada, e tenha sua oferta nutricional ajustada”, ressalta Rachel Daher. |
O
paciente queimado experimenta uma grande perda de quantidade e qualidade de
massa muscular e essa perda é proporcional a gravidade da doença. “Isso gera
alterações em desfechos a curto prazo, como reinfecções e tempo de internação,
e a longo prazo como perda de funcionalidade e qualidade de vida. Já foi
demonstrado por uma série de estudos que minimizar essas perdas aumenta a
imunidade, melhora cicatrização de áreas doadoras, além de reduzir risco de
infecção, tempo de internação e mortalidade”, enumera Rachel. Ela
ressalta, ainda, que a esse cuidado com a nutrição do paciente queimado deve se
estender para o pós-alta. “É fundamental que haja atenção para a transição de
cuidados, tanto intra-hospitalar como, por exemplo, da unidade de terapia
intensiva para a enfermaria, quanto do hospital para o domicílio”, finaliza. |