- 12/06/2024
O cirurgião plástico Evaldo A. D´Assumpção dedicou 60 anos de sua vida a tratar queimados e tentar evitar esse acidente que acomete, em especial, crianças
Pioneiro em campanhas de prevenção a queimaduras, o cirurgião plástico Evaldo A. D´Assumpção é um verdadeiro livro de histórias. Ainda em 1973, com o apoio da direção do Hospital Maria Amélia Lins (MG), criou, segundo ele, a primeira campanha de prevenção das queimaduras no Estado de Minas Gerais e a segunda no Brasil - a primeira foi feita pelo médico Ary do Carmo Russo, um dos primeiros médicos a atuar no tratamento de queimaduras no Brasil.
“Para essa campanha, fiz um folheto criando como seus personagens, Foguinho, Foguito e Foguita, uma família bem trapalhona que vivia sendo vítima de queimaduras domésticas. Nesse folheto, com caricaturas que eu mesmo fiz, ocorriam diversas situações de acidente e com uma pequena trova de quatro linhas (sempre gostei de fazer poesias), era narrado o que eles faziam de errado, e em seguida, numa frase, explicava o que deveriam ter feito para evitar o acidente”, conta o médico.
Na época, Evaldo conseguiu verba junto a um laboratório para a impressão dos folhetos e, também, de um cartaz de 50 x 40cm, que eram afixados em escolas, unidades hospitalares e locais públicos. “Com esse material, montei também uma palestra com diapositivos para projeção, que foi apresentada em várias escolas, igrejas e clubes, divulgando amplamente aqueles riscos. E, no final do folheto, do cartaz e de minhas palestras, ensinava o que fazer quando ocorresse um acidente, até que tivesse o atendimento especializado”, detalha.
A partir dessa quarta-feira (12), a Sociedade Brasileira de Queimaduras passa a postar, semanalmente, as tiras adaptadas. Apesar de já terem se passado 50 anos desde a campanha criada por Evaldo D´Assumpção, os acidentes domésticos com as crianças sendo a maioria das vítimas segue sendo a realidade do Brasil, infelizmente.
Trajetória - Hoje, aos 86 anos, Evaldo D´Assumpção já está aposentado. Saiu de Minas Gerais para o Espírito Santo, onde guarda suas lembranças de mais de 60 anos de atuação na medicina. Na memória, tem as datas exatas de tudo que aconteceu em sua trajetória no atendimento aos pacientes queimados.
Sua relação com a vida hospitalar começou antes mesmo de estudar medicina. Em 1957, foi porteiro do Hospital Pronto Socorro (MG), onde foi readaptado ao formar-se médico. “Quando entrei para a Faculdade de Medicina, em 1958, no ano seguinte passei a ser técnico de laboratório e depois técnico do Banco de Sangue, onde aprendi a puncionar veias difíceis, o que posteriormente veio a me ser muito útil no tratamento de queimados”, lembra.
Na época, não existia residência em medicina e o treinamento em especialidades, segundo ele, se fazia informalmente, acompanhando um especialista mais experiente ou com cursos no exterior. Assim, em 1967, foi para os Estados Unidos ser estagiário na clínica Cronin & Brauer, em Houston, Texas, onde aprimorou conhecimentos da especialidade e no tratamento de queimados.
Quatro anos mais tarde, quando foi criado o Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados do HPS, então subordinado à Secretaria de Segurança Pública, Evaldo foi chamado a organizá-lo e coordená-lo. “Em 1975, já pertencendo à Secretaria de Estado da Saúde, consegui uma área grande, onde pude instalar as primeiras banheiras especialmente feitas para o tratamento de queimados, reduzindo o desconforto dos enfermeiros e dos pacientes”, destaca.
Em 1977, foi inaugurado o bloco vertical do Hospital João XXIII e, aos poucos, todo o serviço de queimados do HPS foi sendo transferido para lá, ocupando um andar inteiro, com condições bem melhores. Transferido para a nova unidade, Evaldo passou a atender pacientes queimados na enfermaria e não mais no pronto socorro.
O cirurgião plástico ainda foi chefe do Serviço de Cirurgia Plástica no Hospital Sarah Kubitscheck, de 1966 a 1982. Ao mesmo tempo, em 1981, começou a trabalhar no recém-inaugurado Hospital Mater Dei, criando um serviço de cirurgia plástica e queimados em 1983, credenciado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica para a formação oficial de especialistas.
“Lá permaneci até o ano 2000, quando passei a operar menos, ficando somente no Pace Hospital, onde recebi a atribuição de criar sua Comissão de Ética, que presidi até minha aposentadoria e encerramento de minhas atividades cirúrgicas, em 19 de setembro de 2008”, finaliza.