YD Comunicação - 25/11/2020
Água fervente, álcool, ácidos. Não importa o meio utilizado. A dor é intensa. No corpo e na alma. Só quem sobreviveu sabe. E não são poucas as mulheres vítimas da covardia, seja ela vinda de quem for. Neste Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, a Sociedade Brasileira de Queimaduras conta a história de Bruna Carvalho, 36 anos, uma sobrevivente de queimadura auto-provocada, na tentativa de apagar da memória o abuso sofrido na adolescência.
Bruna ainda era criança quando o padrasto abusou dela, sexualmente, pela primeira vez. “Eu tinha 9 anos de idade e não sabia muito bem o que era aquilo. Era ameaçada de morte e emocionalmente. Vivi aquilo até os meus 15 anos de idade, tentando proteger minha irmã mais nova de viver o mesmo que eu. Mas descobri que era tarde. Ela também já estava sendo abusada. Foi quando tentei tirar minha vida pela primeira vez, me jogando de um carro em alta velocidade”, relembra, ainda sentindo as dores.
Ela e a irmã contaram para a mãe, na esperança de que tudo terminasse. “Não sofremos mais abuso, porque minha mãe, em vez de nos defender, foi embora com o parceiro dela. A decepção foi tão grande, por ela ter nos deixado, que em 2002 eu tentei acabar com minha vida outra vez. Entrei para o banheiro, joguei uma garrafa inteira de álcool em mim e risquei um palito de fósforo. Só me lembro do barulho e de ser jogada contra a parede”, detalha Bruna.
O socorro veio dos avós. “Tudo isso ainda mexe muito comigo. Eu me tremo de contar. Mas, encontrei Jesus Cristo e o apoio do meu esposo, que me ajuda todos os dias e é sempre muito compreensivo”, conta ela, que ainda hoje carrega as marcas na pele de um dia de desespero pela violência sofrida.
“Toda guerreira tem suas cicatrizes. Não conheço uma mulher forte que tenha tido um passado fácil!”. A frase, da mulher guerreira, mostra que é possível dar a volta por cima. Mas ela também aconselha quem não precisa passar por isso: “busque ajuda, não passe calada. Escolha alguém de confiança e conte o que está acontecendo. Sempre tem solução”.
A história de Bruna é semelhante a muitas outras. Somente em 2017, levantamento nacional mais recente feito pelo Observatório da Mulher contra violência, feito pelo Senado Federal, quase cinco mil mulheres morreram vítimas de algum tipo de violência provocada, principalmente, por companheiros ou ex-companheiros. Destas, cerca de 2% tiveram como agente causador substâncias quentes. Isso sem contar as que sobreviveram aos ataques e aquelas que provocaram a própria morte por não aguentarem mais sofrer com a violência e os abusos. Dados do Relógios da Violência do Instituto Maria da Penha apontam que, a cada dois segundos, uma mulher é vítima |
de violência física ou verbal no Brasil. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Brasil registrou 648 feminicídios no primeiro semestre de 2020, 1,9% a mais que no mesmo período de 2019.
25 de Novembro
A data foi criada em 1999, pela Organização das Nações Unidas e homenageia as irmãs Mirabel, dominicanas que ficaram conhecidas como Las Mariposas. Elas se opuseram à ditadura da época em seu país e foram assassinadas em 25 de novembro de 1960.