- 29/05/2025
Imagina atravessar a infância e a adolescência tendo de lidar com olhares de julgamento, sorrisos e comentários maldosos simplesmente por ter uma aparência diferente e, pior, provocada por um acidente que causou dores físicas e emocionais. Essa foi a realidade de Livia Cristal, vítima de queimaduras na infância e que hoje, aos 36 anos, usa de uma habilidade nata para transformar a própria aparência e ajudar a outras tantas que desejam se sentir mais bonitas.
Lívia aprendeu, sozinha, a esconder as marcas das queimaduras na face usando dos recursos de maquiagem e usa um canal no Youtube para repassar as técnicas. Como ela mesma diz, a sonhada vida de blogueira não veio, mas ela conseguiu se sentir melhor valorizando o que tem de belo.
Mas chegar a essa altura da vida dando valor ao que ela é custou muita dor. “Ficam alguns questionamentos: porque comigo, porque me acham diferente, porque me olham diferente sendo que eu sou só mais uma pessoa com cicatrizes no rosto. Eu não sou um monstro, eu não dou medo em ninguém. Mas com o tempo aprendi que isso não é sobre mim, é sobre quem pensa e me vê assim, e isso já não é problema meu”, destaca.
Lívia Cristal foi vítima de um acidente durante um churrasco de família quando ela tinha apenas quatro anos. Outras oito crianças também foram atingidas pela chama que saltou após jogarem álcool na churrasqueira. Mas apenas ela teve queimaduras de 3º grau.
“Eu não me lembro de muita coisa, mas lembro de perguntar para a minhã mãe porque eu não conseguia abrir os olhos”, conta Lívia. Foram 30 dias no hospital e a notícia de que ela só voltaria a enxergar por um milagre. “Alguns dias depois, o meu milagre aconteceu. Tinha uma TV de 14 polegadas no hospital e estava passando a Escolhinha do Professor Raimundo e eu abri os olhos e enxerguei. Foi emocionante para todos que estavam ali”, relembra.
O tratamento incluiu um enxerto com pele retirada da perna esquerda, raspar o resto de cabelo que sobrou após a queimadura e 18 cirurgias plásticas. Foram cinco anos usando malha compressiva no rosto e lidando com a curiosidade dos coleguinhas de sala.
“Meu último tratamento foi aos 18 anos. Eu não tinha os lábios superiores. Fui a pioneira na revitalização de lábios, com cirurgia realizada no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Depois, fiz uma micropigmentação e alguns tratamentos com ácido”, conta.
Lívia destaca o papel da mãe durante todo esse processo. “A minha mãe foi muito importante nessa fase da minha vida. Ela mostrou que eu deveria ser forte, independente de qualquer coisa”, frisa, lembrando que se tivesse, também, passado por acompanhamento psicológico teria sofrido menos neuras.
“Hoje eu entendo minha história, respeito minhas cicatrizes e me respeito muito. Existem olhares curiosos, olhares preconceituosos, e sempre irão existir. Mas eu me escolhi como mulher, me escolhi como dona do meu amor. Tenho muito o que aprender ainda referente a empoderamento, mas não estou mais no zero comigo. Hoje sou uma mulher confiante em mim e isso basta”, finaliza.