- 22/07/2020
Tratamento é mais difícil e pode provocar parto prematuro
Tatiane Felix sofreu queimaduras por líquido quente aos 2 anos de idade. Como sequela, 50% do tronco e barriga queimados. Quando engravidou, aos 24 anos, um medo: será que a pele suportaria a gestação quando o bebê começasse a crescer ali dentro?
“Tive medo de um aborto. Mas tive um acompanhamento de perto. O parto precisou ser cesariana. Gabriel se desenvolveu apenas do lado direito do meu corpo, pois não havia muita elasticidade. Graças a Deus, ele nasceu bem", relata ela, que é presidente do Centro de Acolhimento aos Sobreviventes de Queimaduras e Feridas de Anápolis e mãe de duas crianças.
O medo de Tatiane não é, de todo, infundado. Enfrentar uma gestação e tendo queimaduras, tenha ela acontecido antes ou durante a gravidez, exige cuidados e acompanhamento. Estima-se uma incidência de 3% a 7% de gestantes vítimas de queimaduras em países em desenvolvimento.
“A queimadura causa retração na pele. Quando a paciente também faz cirurgia plástica para melhorar o aspecto da pele queimada, o abdômen fica tenso. Quando engravida, o útero procura espaço para estender a pele. Mas isso não influencia o crescimento do bebê e o médico que acompanha essa mãe precisa ajudá-la a pensar positivo", explica o especialista em ginecologia e obstetrícia, Carlos Alberto Politano que, recentemente, falou sobre gravidez, queimadura e Covid no SIG Queimaduras da sala Rute.
ACIDENTE DURANTE A GESTAÇÃO - Quando a queimadura acontece durante a gravidez, os cuidados são redobrados e o acompanhamento precisa ser multiprofissional, dependendo da extensão e do tipo do ferimento. “A gestante apresenta algumas características e, dentre elas, o estado que chamamos de hipercoagulabilidade, ou seja, maior possibilidade de desenvolver trombose venosa. No puerpério é maior a possibilidade. A gestante também tem alterações no sistema cardíaco, ou seja, existe um aumento da frequência cardíaca em 20%, o volume sanguíneo em 40%. Diante disso, é preciso ter cuidado quando vai repor líquido em paciente com queimadura extensa”, alerta Politano.
Alguns casos exigem cirurgia, precisando estar atento, também, ao uso da anestesia.
A queimadura durante a gestação afeta o bebê de forma indireta. Com dor intensa, a grávida apresenta alterações metabólicas, que pode, em alguns casos, provocar um trabalho de parto prematuro. “O cirurgião, quando tratar a queimadura em gestante, precisa levar em consideração dois aspectos: a hipervolemia e o risco de trombose”, explica Politano.
Ele aconselha que sempre que uma grávida sofrer queimadura, vá para a emergência de um hospital, pois precisará ser acompanhada por equipe multidisciplinar, em que o obstetra e o cirurgião deverão decidir o tratamento mais adequado para mãe e bebê.
“O tratamento de queimadura em gestante é diferente do que é feito em outras pessoas, porque existe condição cardiocirculatória e pulmonar totalmente diferente. O volume corrente pulmonar diminui, a capacidade respiratória total está diminuída. Ela precisa ser acompanhada. As medicações também são diferentes. Tem o que pode e o que não pode usar. Pode ser que tenha que usar pomada e tenha intercorrência com a gestação. Então, tem uma série de observações”, explica Carlos Alberto Politano.
CUIDADOS – Politano alerta para redobrar os cuidados neste período de isolamento social. “Gestante tem o equilíbrio afetado. Estando em casa, parada, vai ficar mais tempo sentada, sedentária, o que pode provocar edemas. Tenham cuidado na hora de cozinhar, usar ferro de passar, pois um simples descuido pode provocar grande problema", aconselha.