YD Comunicação - 18/06/2021
Especialistas alertam e pedem cuidado redobrado da população nesta época do ano
O mês de junho é famoso pelas tradicionais festas juninas. Período de comida farta, quadrilha, fogueiras e fogos de artifícios. Neste ano, devido à pandemia da covid-19, as grandes festas não vão acontecer. Mas, se for comemorar com a família, vale lembrar de tomar cuidado com as fogueiras e com os fogos de artifícios que geram graves queimaduras e até amputações de membros.
De acordo o chefe do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital da Restauração em Recife, Marcos Barreto, em 2019 foram atendidos, na unidade, 56 pacientes. Destes, 22 foram internados. Em 2020, o hospital recebeu 73 casos, sendo 35 crianças e 38 adultos.
“Para evitar acidentes, existem várias medidas básicas. Não se deve jogar combustível para acender a fogueira nem tentar reacender a fogueira quando ainda tem resíduo de chamas. Os acidentes com fogos de artifícios podem acontecer com os produtos com baixo ou alto teor de explosivos”, explica Marcos Barreto.
Gabriel dos Santos, 19 anos, passou dois meses e sete dias internado no Hospital da Restauração, em 2019, devido ao acidente com uma bombinha caseira. Foi o próprio Gabriel quem produziu o aparato e já fazia isso há seis anos. No dia 29 de junho, na festa de tradição da cidade de João Alfredo (PE), ele bebia com os amigos e soltou a bombinha, que explodiu em sua mão direita, resultando na queimadura de terceiro grau. Gabriel passou por cirurgias e momentos dolorosos. A mão recuperou 95% da força e, até hoje, ele faz fisioterapia. Gabriel ainda fará uma cirurgia plástica.
“Infelizmente, o ser humano só aprende quando passa pela situação. Eu nunca imaginei que isso aconteceria. Achava que, se acontecesse algo, seria uma queimadura leve. A de terceiro grau é uma queimadura muito dolorosa. Eu me lembro como se fosse ontem e ainda não superei o trauma. Não desejo para ninguém”, lamenta.
Em Sergipe, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras do estado, Bruno Barreto, em 2020, o Hospital de Urgências atendeu 50 pacientes por acidentes com fogos de artifícios. Destes, três precisaram de internação. “Mesmo com as proibições legais da aglomeração e dos festejos, foram números altos, mas menores que em 2019. Vamos torcer para que se mantenham cada vez mais baixos”, ressalta.
O presidente da regional da Bahia, Nilmar Bandeira, chama a atenção para as perigosas competições envolvendo fogueiras. “Em algumas cidades do interior existem “brincadeiras” tradicionais. Pular a fogueira é um exemplo clássico. Outro exemplo é a competição de quem anda mais sobre as brasas. O vencedor da competição, além de ganhar o troféu, recebe uma queimadura de terceiro grau nas solas dos pés”, observa.
Diante do cenário preocupante, Bruno Barreto ressalta a necessidade de alertar as pessoas para os riscos de queimaduras. “Fogueira, fogos que são pólvora, álcool ingerido pelos adultos, vestidinhos de chita que tendem a ser muito inflamáveis, por exemplo, são combinações que não costumam dar certo. O índice de acidente é muito elevado. Então, temos que começar a tentar mudar um pouco essa cultura”, sugere.
Cidades proíbem fogos e fogueiras – Devido ao risco desses agentes, algumas cidades nordestinas decretaram a proibição desses itens.
O Ministério Público da Paraíba, por exemplo, recomendou aos municípios que decretem a proibição, em todos os espaços públicos e privados, de acender fogueiras e queimar fogos de artifício. Acender fogueiras em áreas urbanas, enquanto durar a pandemia, é proibido pela Lei Estadual nº 11.711/20.
A mesma recomendação foi dada pelo Ministério Público de Pernambuco. A decisão foi baseada pensando no quadro do paciente contaminado pela covid-19, que, em sua maioria, tem o sistema respiratório comprometido e pode ser agravado pela fumaça provocada pela queimada das fogueiras. Dessa forma, o Governo de Pernambuco atualizou, em 14 de junho de 2021, o Decreto Estadual nº 50.433.
Estados como Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte também aderiram à determinação. No Rio Grande do Norte, por exemplo, o decreto do ano passado continua vigente: “o acendimento de fogueiras e fogos de artifício, permanece proibido neste ano, conforme previsto no artigo 10 do Decreto Estadual nº 29.742, de 4 de junho de 2020”.
Conforme explica o médico e presidente da regional da SBQ/RN, Mário Artur Fernandes Serrano Filho, o decreto foi essencial. “Historicamente, temos um aumento importante no número de queimaduras e síndromes respiratórias no mês de junho por conta da tradição das festas juninas. Após o decreto do ano passado, não tivemos casos durante todo o período junino em 2020 e nenhum até agora, em junho deste ano”, destaca.
Mario filho conta, ainda, que as comemorações podem ser adaptadas. “Não somos contra as tradições de uma cultura tão rica como a das festividades juninas no Nordeste, mas devemos adaptar as comemorações e aproveitar para incorporar, em definitivo, mudanças saudáveis de comportamento às nossas vidas”.
Apesar da importância histórica, o momento delicado causado pela pandemia exige maior cuidado por parte dos governos e de toda a sociedade. “Esse ano não aglomerem, não soltem fogos que estão proibidos, não façam fogueiras, evitem se queimar e evitem se contaminar com o coronavírus para que a gente possa passar por essa situação com o menor índice possível de pacientes queimados”, conclui o presidente da SBQ/SE, Bruno Barreto.