- 24/07/2020
O presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) regional Rio Grande do Sul (RS), Bruno Alcântara, é o entrevistado dessa semana da coluna quinzenal da SBQ. O profissional nos conta sobre o fascínio que desenvolveu pelas queimaduras na residência médica e sobre os trabalhos que desenvolve atualmente como profissional.
Carioca, Alcântara mora há 12 anos na Serra Gaúcha e destaca os trabalhos em andamento e os desafios no tratamento e prevenção de queimaduras. “Nossa regional aqui ainda está se estruturando e ganhando força”.
Como foi direcionado para o trabalho com queimaduras?
Embora seja presidente de nossa regional Rio Grande do Sul, sou carioca e vivo na região da Serra Gaúcha há 12 anos. Vindo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tive meus primeiros contatos com o tratamento de pacientes queimados ainda na residência de Cirurgia Geral no Hospital Federal do Andaraí, no Rio de Janeiro, há quase 18 anos.
O fascínio pelo universo das queimaduras me levou a fazer a residência médica no serviço de Cirurgia Plástica do mesmo hospital, o que me permitiu ter contato com a equipe do Centro de Tratamento de Queimados Dr. Oscar Plaisant onde ainda são vivas na memória as discussões de casos com os médicos Maria Cristina do Valle Freitas Serra, Luiz Macieira, Roberto Portes, Nilson Terra Cunha, entre outros. Ao mesmo tempo que também frequentava o Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Municipal Souza Aguiar, maior emergência da América Latina à época. Essa imersão no universo do tratamento de queimaduras me fez ter certeza do caminho a seguir em minha vida profissional.
Quais outros trabalhos desenvolve?
Atualmente moro e trabalho em Veranópolis, na Serra Gaúcha, onde tenho clínica privada e montei, de forma modesta, uma estrutura para tratamento de pacientes queimados, atendendo casos privados e do Sistema Único de Saúde (SUS). Atuo, ainda, como auditor médico para Cirurgia Plástica e Dermatologia para o Sistema de Saúde Tacchimed, Bento Gonçalves e região. Sou pesquisador do Instituto de Pesquisas com células tronco da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), laboratório chefiado pela professora doutora Patricia Pranke, atuando na linha de regeneração de pele e desenvolvimento de substitutos cutâneos - assunto sobre o qual desenvolvi meu mestrado em fisiologia pela mesma universidade.
Quais conquistas da SBQ Rio Grande do Sul gostaria de destacar?
Embora o Rio Grande do Sul seja um estado grande e com destacada importância entre os membros da federação, nossa regional aqui ainda está se estruturando e ganhando força. Composta por um pequeno grupo de apaixonados pelo tratamento de queimaduras, já enfrentou grandes desafios no passado, com vários de seus membros tendo feito parte, por exemplo, do grupo de suporte à tragédia da Boate Kiss, em 2013, e de todas as consequências advindas desse que se tornou o segundo maior acidente com queimados na história brasileira.
Que desafios RS enfrenta no tratamento e prevenção de queimadura?
O grande desafio atual para o tratamento e prevenção de queimaduras em nosso estado se deve à centralização dos serviços existentes. Nosso estado possui, atualmente, três centros especializados no tratamento de vítimas de queimaduras, dois em Porto Alegre (Hospital Pronto Socorro de Porto Alegre e Hospital Cristo Redentor) e um em Rio Grande (Santa Casa de Rio Grande). Essa centralização, aliada às dificuldades inerentes à integração dos serviços públicos, acaba por dificultar o acesso de muitos pacientes aos serviços especializados e torna mais difícil a realização de campanhas amplas de prevenção e conscientização. O distanciamento desses centros cria a falsa impressão de que na maioria das regiões não há acidentes com queimaduras – “o que os olhos não veem, o coração não sente”, tornando pouco atrativo a grande parte da população e gestores os assuntos pertinentes às queimaduras.
Atualmente buscamos a instalação de um novo centro de tratamentos na Serra Gaúcha, polo industrial e segundo centro populacional do estado, processo burocrático e lento, mas que tenho certeza que se concretizará nos próximos anos. Da mesma forma, buscamos a melhor integração entre as regiões com o objetivo de permitir o acesso ao melhor tratamento, mesmo dos casos de menor gravidade, ajudando a prevenir as sequelas e todo impacto advindo delas.