- 30/07/2025
Uma sugestão de brincadeira. Um vidro de álcool de fácil acesso em casa. Crianças na rua sem supervisão de adultos. Essa mistura muito comum no nosso cotidiano resultou em um acidente que quase tirou a vida de Guilherme Santos, quando ele tinha apenas 8 anos de idade.
“Era Sexta-feira Santa. Estava um dia bonito. Minha mãe, que era cabeleireira, tinha saído para atender a uma cliente. Pedi meu pai para brincar com colegas na rua e ele deixou. Meu colega, da mesma idade que eu, teve a ideia de fazer uma fogueira para queimar alguns gravetos da rua. Só com fósforo não acendeu e foi aí que ele pegou o álcool”, conta Guilherme
Ele lembra que havia uma pequena faísca na fogueira, mas quando jogou o álcool, as chmas acenderam subitamente. “O álcool se propagou pelo fogo e me atingiu diretamente. Naquele momento, tudo aconteceu muito rápido. Por instantes, achei que era algo irreal de tão veloz”, relembra.
Guilherme conta que correu em chamas pela rua, mas ninguém conseguia enxergar o fogo com a luz do sol. Somente em casa o pai pegou uma toalha e abafou. “Fiquei coberto de bolhas e com o tecido da roupa grudado ao corpo. Queimei toda a perna direita, a coxa esquerda, a panturrilha esquerda, e a parte superior do braço direito. Meus cabelos e sobrancelhas também ficaram completamente sapecados”, conta.
A mãe chegou a tempo de ver a cena que ele queria esconder. Foram para o Hospital Regional de Ceilândia, próximo à Brasília, e de lá foi encaminhado ao Hospital Regional da Asa Norte, onde havia um centro de tratamento de queimaduras.
“Ao dar entrada, minha condição era extremamente grave. O médico que me atendeu deu pouquíssimas esperanças à minha mãe. As chances de sobrevivência eram mínimas”, destaca. Foram 42 dias internado. Pelo menos oito cirurgias. Houve, inclusive, uma indicação de amputação da perna por medo de infecção, posteriormente, descartada.
Hoje, 23 anos depois, Guilherme é gratidão pelos médicos que o atenderam naquela época e por ter sobrevivido a tudo. “A única sequela que ficou foram as cicatrizes. No início, elas me incomodavam bastante, principalmente por uma questão estética. Com o tempo, porém, aprendi a enxergá-las de outra forma. Entendi que, na verdade, essas marcas representam minha trajetória de superação. São testemunhas silenciosas de tudo o que enfrentei e conquistei”, destaca.
Ele conta que ainda criança, pensava que nunca conseguiria um emprego ou uma namorada, em razão das cicatrizes. “Afinal, quem se interessaria por uma pessoa com tantas marcas no corpo? Esses pensamentos me acompanharam por muito tempo. Com o passar dos anos, percebi que tudo aquilo não passava de autossabotagem”, frisa.
Mesmo com o acidente e o tratamento das queimaduras, Guilherme nunca deixou de estudar e hoje é formado em economia, com MBA em Investimentos e trabalha em dos maiores fundos de pensão do país. “Superei cada obstáculo. Continuei jogando futebol, meu esporte favorito na infância, pratiquei jiu-jitsu e jamais parei de estudar. Sempre gostei de trabalhar. Comecei aos 12 anos, realizando pequenas tarefas informais, e nunca mais parei”, conta.
Para ele, o apio da família, em especial dos pais, e de amigos foi crucial para que ele superasse cada obstáculo. Apesar das limitações, nunca faltaram amor, cuidado, atenção e carinho. E penso que se consegui superar um acidente que quase me matou, que por pouco não me tirou uma parte do corpo, então posso superar qualquer coisa”, finaliza.