- 19/12/2025
“Acidentes não escolhem pessoas. Eles
podem acontecer com qualquer um de nós, a qualquer momento”. A reflexão é de Keila
Freitas, que há quatro anos ficou com 45% do corpo queimado devido a um
acidente em casa com uma lareira ecológica. “Meu único pensamento era permanecer
viva”, relembra.
Com os pés em chamas, Keila e o marido
ainda conseguiram escapar do ambiente e pedir socorro a uma tia. “Assim que
cheguei, comecei a sentir muito frio e uma sede intensa. De repente, ouvi as
pessoas dizendo: Nossa, você está toda queimada”, conta.
Os familiares acionaram o socorro e
entre os profissionais do Corpo de Bombeiros estava uma amiga querida de Keila,
o que a fez se sentir segura. “Da minha casa até o Hospital Santa Teresa, o
trajeto levou aproximadamente 15 minutos. Após minha amiga, que é técnica de
enfermagem, me cobrir com a manta térmica, comecei a me estabilizar. Aquele
frio intenso foi diminuindo e senti um grande alívio. Nesse momento, confesso a
vocês que eu apenas pedia a Deus para conseguir sobreviver, pois minha família
precisava de mim”, detalha.
O fogo atingiu os membros inferiores,
afetando abdome e glúteos, e também o braço direito. Foram 26 dias de
internação, sendo 10 deles no centro de tratamento intensivo. Ela ficou com
sequelas decorrentes das queimaduras, que fazem parte do processo de
recuperação e adaptação.
“Durante a internação, foi necessário
realizar procedimento de raspagem em centro cirúrgico. Ao longo do tratamento,
realizei fisioterapia, diariamente, processo fundamental para a recuperação,
inclusive para reaprender a andar”, destaca, ressaltando que também precisou de
acompanhamento psicológico. “Foi essencial para enfrentar as dificuldades
emocionais decorrentes do acidente”, frisa.
Além do acompanhamento profissional,
Keila diz que a ajuda de familiares e amigos também foi fundamental. “Recebi carinho,
cuidado e apoio dos profissionais de saúde, o que fez toda a diferença nesse
período tão delicado. Ao longo do caminho, também descobri amizades
verdadeiras, vindas de pessoas que eu nem imaginava que estariam presentes”,
celebra.
Keila diz que mesmo convivendo com as
dores intensas do tratamento, ela nunca perdeu o bom humor, mesmo tendo dias em
que o desânimo batia. “A dor era real e o processo não é fácil. Ainda assim,
mantive pensamentos positivos e a convicção de que iria melhorar, enfrentando
cada desafio com esperança e determinação”, conta.
Dores passadas
O acidente de Keila ocorreu apenas um
ano após ela ter perdido a mãe, vítima de Covid-19, quando ela ainda sentia o
luto, que se somou às dores do novo episódio.
Tudo isso, em meio a um processo de
encerramento de uma graduação, o que a fez interromper o ciclo. “Estava prestes
a apresentar meu trabalho de conclusão de curso e precisei adiar. Não pude me
formar junto à minha turma. Mas, mesmo diante
das perdas e interrupções, meus sonhos, minha força e o desejo de seguir em
frente sempre estiveram presentes”, diz.
Hoje, Keila ressignificou tudo o que
viveu. Carrega suas cicatrizes como símbolo de renascimento, provas de que
nasceu novamente após tudo o que enfrentou. “Como diz a música dos Titãs,
“Enquanto houver sol, ainda haverá”, sempre existe a esperança de dias melhores”,
destaca.
Ela diz que hoje consegue contar a
própria história sem chorar, olhar suas próprias fotos sem nervosismo e sem dor
emocional. E deixa como mensagem que o mais importante é ter cuidado e atenção
no dia a dia, mas se um dia alguém chegar a sofrer um acidente, precisa pensar
que há possibilidades de recomeço.
“Cada história é diferente. Muitas
pessoas acabam se escondendo depois do que viveram, mas eu digo a vocês: não se
escondam. Tivemos uma nova oportunidade de viver. Nossas cicatrizes existem
para mostrar que somos como uma fênix, que renasceu das cinzas. Isso é algo
único, é a nossa marca de força e superação. Somos lindos, exatamente como
somos. Lembrem-se: a vida é esta, é agora, é a que estamos vivendo. Não deixem
de aproveitar cada momento.