EU VENCI - “O fogo é rápido demais, quente demais e transformador.”

Lyd Comunicação - 23/05/2024

Ana Paula Silva Rodrigues sofreu queimaduras na face, colo e braços. Viveu sua dor, mas reagiu e hoje atua na prevenção de acidentes


Ela poderia, facilmente, estar atuando como modelo fotográfico. A bela morena de olhar e postura firmes, porém, tem atuado em outra frente: na prevenção de queimaduras, para evitar que outras pessoas venham a se tornar vítima deste acidente, assim como ela se tornou, em 2021. 


Mas a firmeza que Ana Paula Silva Rodrigues transparece nem sempre esteve presente. Se olhar no espelho 15 dias após o acidente rendeu a ela tristeza, medo e depressão. “Eu não entendia por que todos me olhavam e sentiam pena, medo. Eu quis ir ao banheiro, passei pelo espelho sem coragem de olhar. Não me reconheci, não me aceitei estar naquela condição. Recebi alta 21 dias depois e não queria ir para casa, não queria ver nem receber ninguém”, conta Ana Paula. Para ela, o mais difícil era o olhar da sociedade e se aceitar com as marcas e cicatrizes.

Mas a situação não durou muito tempo. “Comecei a procurar vítimas de queimaduras nas redes sociais para entender o que era ser uma sobrevivente, qual era o próximo passo, li muito, quis entender como seria minha nova condição. Comecei a falar de mim, da minha história e isso me fortaleceu, esqueci o tempo e virei fã de Clarice Lispector, também vítima de um acidente com fogo”, detalha, lembrando da acolhida que recebeu da Associação Nacional dos Amigos e Vítimas de Queimadura (Anaviq) durante este processo. 

Depois que “a chave virou”, Ana Paula, inclusive, recusou convites para cobrir as marcas das queimaduras com tatuagens, mas aceitou fazer um ensaio fotográfico que deixou bem à mostra as cicatrizes. “Esse ensaio foi outra porta para ver que eu, talvez, estava mais feminina, mais viva e empoderada. Eu queria ver o que viam e as fotos me mostraram que podemos ter vergonha delas ou podemos aceitá-las e reconhecer que nossas diferenças nos tornam especiais. E eu sigo sendo quem sou, com minhas cicatrizes, com minha história”, celebra a jovem. 

Mãe de três filhos, ela conta que atualmente trabalha em prol da prevenção dentro e fora de casa. Moradora de Porto Alegre, ainda está atuando na ajuda aos conterrâneos que estão sofrendo com as consequências das enchentes provocadas pela chuva. 

O acidente – Ana Paula Rodrigues teve 30% do corpo queimado, atingindo face, colo, seios, braço e barriga, após a explosão de uma lareira ecológica provocada pelo reacendimento com álcool. “Com a força da explosão, uma cortina de fogo se abriu na minha frente. Eu só pensava em sair, gritei por socorro, arrombaram a porta e me puxaram para fora. Não vi como estava, só sentia um cheiro de carne queimada”, relembra. 

Ela conta que a colocaram no carro e correram para o Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, referência em queimaduras na cidade, e foi direto para a UTI. “Eu estava com medo, não sabia se voltaria para casa, para meus filhos. Eu pensava que precisava estar no trabalho às 6h30. Fiquei pensando em como eu estava se nem mesmo minha mãe me reconheceu na UTI”, detalha. “O fogo é rápido demais, quente demais e transformador”, frisa.

Curiosidade – A escritora Clarice Lispector por pouco não morreu ou teve sequelas mais graves em razão de queimaduras. Ela era fumante e tomava remédios para dormir. Acabou adormecendo com um cigarro acesso e o apartamento onde morava pegou fogo. 

A vizinha quem a retirou do local. Ainda assim, ela passou dois meses hospitalizada, sendo que os três primeiros dias à beira da morte. Sua mão direita foi muito prejudicada e os médicos a teriam amputado caso sua irmã não tivesse pedido para que esperassem. Recebeu enxerto de pele e fez fisioterapia para recuperar os movimentos, que não foram ao todo recobrados. 

Outras Notícias

Cirurgião plástico é vital no atendimento a vítimas de queimaduras

Nova diretoria da SBQ tem foco na linha de cuidados, fomento à pesquisa e aproximação com estudantes e instituições internacionais

Eu venci: arquiteta ficou mais alerta a projetos seguros depois de acidente provocado por curto-circuito

5° Encontro Catarinense Multiprofissional em Queimaduras ocorre nos dias 29 e 30 de novembro

Pesquisa em queimaduras será tema do SIG Queimaduras nessa quarta-feira (27)

Diretorias nacional e regionais têm novos representantes

Profissionais de saúde promovem ação em Angola para tratar crianças vítimas de queimaduras

Brasília recebeu último CNNAQ do ano neste fim de semana

Prazo para pagamento da anuidade 2024 termina em 30 de novembro

Aloenxertos será tema apresentado pelo médico André Paggiaro no próximo SIG Queimaduras

Interessados em concorrer às diretorias nacional e regional da SBQ devem enviar chapa até 15 de novembro

Participe do Inquérito SBQ 2024 e ajude-nos a documentar a realidade dos CTQs no Brasil

Começa nesta segunda-feira (4) a Semana Mundial de Queimaduras em formato online

EU VENCI – Daniel Moraes pensou que a queimadura era o fim da linha, mas foi o início de uma nova história

Novo fascículo da RBQ está disponível para download

SBQ divulga resultados do XIV Congresso Brasileiro de Queimaduras

Terapeuta ocupacional realiza treinos das atividades diárias promovendo qualidade de vida ao paciente

Fundação Ecarta promove abaixo-assinado em prol da regulamentação do uso de membrana amniótica

SBQ convoca Assembleia Geral Ordinária para 23 de novembro para nova eleição de diretoria

No Dia do Médico, presidente da SBQ fala da trajetória e requisitos para atuar com vítimas de queimaduras