YD comunicação - 27/11/2023
Artigos publicados na RBQ mostram resultado de pesquisa feita com pacientes queimados de UTQ infantil
Uma das principais dificuldades no tratamento de vítimas de queimaduras, segundo pacientes e profissionais, é o controle da dor. Na tentativa de descobrir formas de diminuir essa sensação nos pacientes, a professora do departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, Maria Elena Echevarria Guanilo, juntamente com residentes, fez um estudo sobre o uso de realidade virtual para controle da dor em crianças. Dois artigos sobre o assunto foram publicados na Revista Brasileira de Queimaduras, um deles na última edição deste ano.
“No mestrado e no doutorado, eu trabalhei com validação de instrumento que avalia a ansiedade em frente a procedimentos dolorosos e uma parte do estresse pós-traumático, que é o impacto do evento para adultos que sofreram queimaduras. Isso despertava muito a minha curiosidade em relação à dor do paciente queimado”, relembra Maria Elena.
Foi aí que fez a proposta, conseguiu aprovação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para financiamento de bolsa revertida para pesquisa. “Na época, passei no concurso para a UFSC e o professor Maurício Pereima, que era chefe da UTQ infantil, abriu as portas para que a pesquisa fosse feita lá”, conta a profissional.
Ela e outras três residentes fizeram a adaptação de equipamento, de rotinas e a coleta de dados. E o resultado foi bem positivo: além de contribuir com relação à dor, essa distração da realidade virtual também contribuía, por exemplo, com a diminuição da intensidade do pruído, aquela coceirinha que sente com a cicatrização da ferida. Maria Elena ressalta que alguns pacientes sequer precisavam ser medicados para tirar a dor e a coceira.
Soliane Scapin, uma das residentes participantes da pesquisa, destaca que o estudo foi inédito à época. “Percebemos um gap nas pesquisas direcionadas com realidade virtual, principalmente no cenário de queimaduras. A gente fez uma busca em todos os artigos publicados no mundo que trabalhavam com realidade virtual no alívio da dor. Naquela época, apenas Estados Unidos usavam”, diz.
Maria Elena conta que chegaram a entrar em contato com equipes médicas de lá que utilizavam a realidade virtual e que, inclusive, desenvolveram um aplicativo chamado Snow, cujo cenário envolvia um boneco de neve, com imagens que traziam alívio para as crianças.
“Eles nos ofereceram o aplicativo, gratuitamente, mas os cursos de equipamentos eram elevados para o dinheiro que tínhamos. Mas eles nos ajudaram discutindo qual seria o material utilizado e nós adaptamos”, conta a professora.
No momento, porém, a realidade virtual não tem sido utilizada nas crianças. Mas Maria Elena conta que ainda usa o material adquirido na pesquisa para tratar adultos não somente vítimas de queimaduras. “Hoje temos óculos e celulares de distintas faixas de preços que podem ser utilizados. São instrumentos, relativamente, de fácil acesso, e que trazem uma sensação de alívio para o paciente. Torna o momento do curativo mais rápido e menos sofrido”, frisa, deixando claro que seria importante que hospitais e até mesmo instituições de ensino pudessem investir na tecnologia.
Para saber mais sobre o assunto, o artigo Realidade virtual no tratamento da dor em criança queimada: Relato de caso foi publicado no Volume 16 Número 1 de 2017 da RBQ. A continuação do estudo está no artigo Realidade virtual na redução da dor em crianças queimadas: Estudo piloto quase-experimental, publicado na edição atual (Volume 22 – Número 1/2023).