YD comunicação - 12/06/2023
Por estarem presentes no dia-a-dia, não percebemos os riscos. Mas é preciso atenção
Estamos cercados pela eletricidade. E por ela estar presente nas tarefas mais simples do dia-a-dia, como abrir uma geladeira ou tomar um banho, muitas vezes não nos damos conta dos riscos que ela pode nos oferecer. E é aí que mora o perigo. Os eletrodomésticos, principalmente aqueles que ficam em área molhada, são os que mais oferecem riscos.
“Secadores de cabelo, micro-ondas, forno elétrico, máquina de lavar, carregadores de celular. Todos eles são perigosos. Por isso, é importante não fazer manutenção em equipamentos energizados, como, por exemplo, de um liquidificador ligado na tomada. Também é importante contratar profissional especializado para fazer revisão nas ligações elétricas e sempre usar produtos de qualidade”, elenca o diretor-executivo da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), Edson Martinho.
Qualquer choque elétrico pode provocar queimaduras. “A queimadura elétrica pode vir de várias formas. Pode ser de baixa tensão, por meio dos aparelhos domésticos, das tomadas. Mas o fato de ser de baixa tensão não significa que ela não possa ser grave. Os choques de alta voltagem são mais graves porque é alta a carga elétrica que passa pelo corpo e causa muitos danos. A pessoa pode sofrer queimaduras internas no músculo e órgãos e ter apenas uma pequena lesão de entrada”, explica o cirurgião plástico, José Adorno, também representante interinstitucional nacional e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ).
Além dos riscos dentro de casa, algumas profissões também podem ser consideradas perigosas. “O eletricista, por exemplo, está mais exposto. Mas, ele está preparado para isso e conhece os riscos. O pior são os profissionais não ligados à área, mas que se aventuram a fazer os serviços, como pedreiros, instaladores de fachada, de internet”, alerta Edson Martinho.
Mesmo para os que têm conhecimento e habilidade quanto ao que estão fazendo, a eletricidade é um perigo constante. Que o diga o técnico em eletrotécnica Cleuber Barros Marques Caetano, 49 anos, que em 2014 ficou entre a vida e a morte após uma explosão enquanto fazia o lançamento de cabos em uma estação transformadora de um shopping em Brasília. Na época, ele era funcionário da Companhia Energética de Brasília (CEB).
“O trabalho estava praticamente concluído, na acomodação dos cabos, ouvi um barulho e em seguida vi um clarão e só me protegi, abaixando a cabeça. Fiquei imprensado entre a parede e o transformador, sem saber para onde correr. Encontrei a saída com luz de emergência e a porta cheia de brigadista e outras pessoas e eu nem sabia como eu estava”, relembra Caetano.
O técnico em eletrotécnica conta que foram 72 dias de internação. Na época, os jornais noticiaram que ele tinha poucas chances de sobreviver. “Eu tinha consciência, mas não sabia como eu estava. Apenas tinha medo de morrer. Eu era recém-casado e minha esposa estava grávida”, conta.
Para ele, seria possível ter evitado o acidente se as equipes recebessem mais treinamento e, também, se os trabalhos fossem revisados por mais gente da equipe. “Na área elétrica, a palavra é treinamento e prevenção. Procurar sempre trabalhar da maneira mais segura. Sempre estar atento às normas que devem ser sempre revistas, para se evitar acidentes”, diz Cleuber Barros, deixando o alerta.
Atendimento – O primeiro cuidado ao ver uma pessoa em choque elétrico é não tocar nela sob o risco de ser atingido também. É importante desligar a fonte de energia, imediatamente, para parar a transmissão elétrica. Em seguida, deitar a pessoa no chão, preparar um pano limpo, resfriar a área queimada com água corrente e chamar o serviço de emergência.
Segundo José Adorno, o atendimento ao paciente queimado vítima de choque elétrico deve ser diferente. “As equipes de emergência precisam ser capacitadas para definir qual nível de cuidado ele precisa primeiro, porque a pessoa pode ter sofrido uma queda e ter um traumatismo ou estar passando por algo que ameace mais a vida do que a queimadura em si”, destaca o médico.
Ele diz, ainda, que a extensão da área corporal modifica a análise a partir do momento que é choque elétrico. “A gravidade não é medida pelo tamanho da área corporal. Ele pode ter apenas um ferimento na mão, por exemplo, mas ter queimaduras internamente. Por isso é sempre importante uma avaliação médica após choque”, ressalta.
Mas, o grande problema é que na maioria dos casos, sequer, dá tempo de chegar ao hospital. O paciente vem a óbito ainda no local do acidente. “Temos uma epidemia de morte por queimaduras elétricas. Dentre todos os agentes causadores de queimaduras, ela representa mais de 46% dos óbitos. É muito comum que esse alto nível de mortalidade esteja ligado às particularidades do choque, que pode causar parada cardíaca, respiratória ou associado a outros traumas”, comenta.
Para o diretor-executivo da Abracopel, Edson Martinho, a campanha Junho Laranja é de extrema importância para trabalhar o tema e chamar a atenção para o fator queimadura. “A gente sempre trabalhou o assunto falando sobre as paradas cardíaca e respiratória e ignorando o efeito das queimaduras”, finaliza.