YD Comunicação - 29/10/2021
Inaugurado em julho de 2016, o Centro de Tratamento de Queimaduras da Irmandade de Misericórdia de Campinas atende a pelo menos 20 municípios, uma população de 3,5 milhões de pessoas, além de pacientes regulados de todo o estado.
À frente do centro desde a proposta de criação dele, iniciada em setembro de 2014, o médico Flávio Nadruz Novaes fala, em entrevista à SBQ, sobre a estrutura e atendimento do CTQ e os desafios a serem enfrentados.
- Como é a estrutura do CTQ, tanto física quanto de profissionais?
É um dos serviços considerados de alta complexidade pelo Ministério da Saúde, contempla todos os requisitos da portaria 1273, no seu anexo 2, sob todos os pontos de vista, principalmente relacionado aos recursos físicos e humanos. Temos 12 leitos em 11 quartos. A equipe de médicos é dividida nas profissões de cirurgião do trauma, plástica e terapia intensiva, um colega de urgência e emergência. Temos um médico horizontal e a coordenação. A equipe multiprofissional, são nove profissões que compõem a equipe, inclusive farmacêutico clínico.
- Tem capacidade para atender quantos pacientes?
São 12 leitos, temos centro cirúrgico próprio e o diferencial que é a sala de telemedicina que é onde se origina o SIG Queimaduras em parceria com a SBQ, temos ambulatório para pacientes que foram internados no CTQ, com atendimento das mesmas profissões que participaram no tratamento do paciente internado, a equipe multiprofissional continua o atendimento até que o paciente tenha condições de alta definitiva e isso, geralmente, passa de um ano.
- Quais as maiores dificuldades encontradas?
Acredito que para todos, a maior dificuldade é o custeio desse serviço. A Santa Casa de Campinas, que pertence a Irmandade, é instituição privada filantrópica e os recurso vêm do município e parte pequena do Ministério da Saúde e não há nenhum custeio por parte do estado. Considerando que é um serviço de alta complexidade que atende doentes grandes queimados com custo elevado, este é um dos problemas. Há necessidade de gestão muito precisa.
A segunda dificuldade é regulação. Nós temos regulação municipal que está vinculada à regulação do estado e a gente não consegue focar nos pacientes da nossa macrorregião, que são 20 municípios, com população aproximada de 3,5 milhões. Nessa regulação a gente recebe pacientes de distâncias muito longas e isso reflete na sequência do atendimento.
- Com a pandemia, as dificuldades foram potencializadas? O que mudou com a pandemia?
Do ponto de vista estrutural, a pandemia não nos alterou em nada, conseguimos manter o mesmo ritmo de trabalho. Mas a dificuldade potencializada é que a utilização do álcool voltou para dentro das casas e isso era necessário no momento, mas as ocorrências que envolvem álcool líquido aumentaram no nosso serviço. Mudou o perfil e o aumento do álcool como agente causador das queimaduras. O curso alto do GLP também leva a cozinhar em sistemas improvisados, aumentando o risco de acidentes. As ações de prevenção serão determinantes para que a gente volte a um patamar baixo de utilização do álcool no ambiente doméstico e nossa vida, superar a pandemia com segurança.
- O que o senhor conseguiu implementar de projeto ou ação positiva no CTQ nestes anos? Na proposta inicial do CTQ queríamos ter um tripé, que estava calcado na qualidade da assistência, no ensino e na pesquisa. Começando pela pesquisa, é uma coisa que exige maturidade que um serviço de cinco anos, para fazer pesquisas efetivas e relevantes, a gente ainda não tem essa maturidade. Quanto à assistência, temos boas condições de ambiente e equipamentos, procuramos manter assistência dentro de modernidade e eficiência. Fortemente trabalhamos alguns conceitos como cirurgia precoce, atendimento integral, agilidade no atendimento. |
Sobre protocolo, tem que está relacionado com essa proposta, na questão assistencial e esse protocolo é constantemente atualizado. O hospital é acreditado, então todo protocolo segue a lógica, principalmente na questão da segurança e, num segundo momento, esse protocolo ter senso de fluxo de atendimento, de processo, principalmente processos desenvolvidos em benefícios do paciente que refletem na segurança dele.
- E o que dizer sobre o terceiro pilar?
O terceiro pilar é o ensino. São 11 as residências médicas dentro das especialidades de terapia intensiva, cirurgia plástica, urgência e emergência, cirurgia do trauma e algumas de cirurgia geral que estagiam dentro do nosso serviços. Durante o ano, com estágios de 30 dias, chega-se à casa dos 40 médicos em formação que estagiam conosco.
A sala de telemedicina é ferramenta utilíssima que tem custo zero e você produzir ensino atualização, aprendizado, essa é ferramenta que a pandemia fez com que a gente usasse com muita força. Há parceria com SIG, cuja coordenação está comigo. A parceria com a SBQ fez com que a gente chegasse a 60 reuniões em 2020 e a pandemia impulsionou esse formato, o ensino à distância.