- 25/06/2020
Incertezas com a pandemia e pressões diárias causam sofrimento físico e psicológico
Nervosismo, sofrimento psicológico e problemas físicos entre os profissionais da saúde podem acender o alerta de que algo não está bem. Esse foi o assunto de desta quinta-feira (25), da reunião virtual do SIG Queimaduras, encontro semanal da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) com profissionais de diversas áreas, onde a síndrome de Burnout em tempos de COVID-19 foi abordada.
A psicóloga e coordenadora da equipe multiprofissional da Irmandade de Misericórdia de Campinas, Sandra Almeida, foi a palestrante convidada e explicou que a síndrome de Burnout nada mais é que o estresse que se torna crônico, comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes. E pode atingir qualquer profissional em qualquer ambiente de trabalho.
“A covid-19 mexe com as questões existenciais. Os profissionais de saúde enfrentam seus próprios medos de contaminação, morte de familiares e muitos não voltam para suas casas para preservar os familiares. Na sobrecarga, ele é colocado como herói, mas é um ser humano. Há todo momento tem a ameaça real que é a morte”, explica ela, lembrando que não somente médicos e enfermeiros, mas todos que estão envolvidos neste atendimento passam pelos mesmo problemas, como recepcionistas e os responsáveis pela higiene dos locais.
Estresse - O presidente da SBQ, José Adorno, destacou que nunca vivemos momentos tão estressantes, tanto na área pessoal quanto profissional. A pandemia tem exigido revelar habilidades, potenciais e, também, todas as fragilidades.
“Riscos ao exercer a profissão na área de saúde; compreensões e incompreensões por parte de vários setores da sociedade; convivência com recursos escassos; apelos internos dos nossos compromissos com a arte de cuidar e relacionar com organizações também submetidas a estresse de decisões que o momento exige. Estamos em um momento de grande sofrimento e aprendizado ao mesmo tempo”.
Para Adorno, entender os mecanismos de resposta e adaptabilidade é imprescindível. “O centro do cuidado sempre será o paciente e seu bem-estar. Ainda não sabemos o final do filme. Aprender e buscar melhoria nesses processos é de grande relevância para conviver com sistema, equipe e oferecer o cuidado e o tratamento ao usuário da saúde”, diz.
Há necessidade de atenção de toda a instituição com todos os profissionais que trabalham em hospitais, pois todos estão envolvidos nesse ambiente de trabalho com o mesmo objetivo, desde o recepcionista ao médico. “A gestão deve estar atenta ao fato novo, não do Burnout, que já existia, mas desse momento que não temos resposta para nada. Ninguém sabe quando vai acabar, se terá uma vacina efetiva, se haverá uma segunda leva da doença, é momento sem respostas”, ressalta a psicóloga. A gestão pode oferecer aos funcionários rodas de conversa, meditação, relaxamento e apoio.
Identificando o problema – Os sintomas principais da doença são: dor de cabeça frequente, insônia, alterações de humor, cansaço excessivo, comportamento depressivo, negatividade, cinismo e redução na eficácia profissional do trabalhador.
É difícil para o paciente perceber a irritabilidade, por isso, os colegas de trabalho e a família assumem o papel de reconhecer quando a pessoa precisa de ajuda. Segundo Sandra Almeida, o diagnóstico inicial é feito por um psicólogo, que analisa se há a necessidade de encaminhamento a um psiquiatra para começar a medicação ou inicia a terapia para resolução da doença.
Ela acrescenta que a terapia é uma das principais maneiras de resolver a síndrome, mas também é necessária uma conversa com os gestores da instituição onde o profissional trabalha. “Às vezes é preciso mudar os processos de trabalho, trocar a pessoa de setor, conversar com so colegas de trabalho. Há casos em que o profissional prefere pedir demissão”, finaliza a psicóloga.
*Crédito fotos: Banco de imagens Freepik