- 10/10/2024
Pesquisadora membro da SBQ, em parceria com profissionais de outros país, busca levantar notificações
Abra um site de busca e pesquise “feminicídio e queimadura”. Uma dezena de notícias se abrirá, mostrando que o número de casos de violência contra a mulher usando álcool, fogo e produtos químicos aparecerá em quantidade bem maior do que os dados oficiais conseguem mostrar.
A enfermeira doutora Raquel Pan, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), vem estudando o assunto desde 2018, dentro do Comitê de Prevenção da ISBI. Naquela época participaram pesquisadores da Austrália, do Canadá e do Brasil, fazendo uma revisão sobre as violências contra a mulher e meninas por queimaduras no mundo.
“A partir daí, a gente começou a fazer outros estudos, inclusive, de notificação. Só que no sistema a gente não consegue identificar exatamente os dados de violências contra a mulher por queimaduras, então esses dados são subestimados”, destaca Pan.
Diante disso, ela e outras pesquisadoras da Austrália, Canadá e Reino Unido estão fazendo um levantamento das notificações de casos de violência contra a mulher por queimaduras no Global Burn Registry, que é o Registro Global de Queimaduras, uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde com a colaboração da ISBI.
No Brasil, alguns trabalhos com a temática têm sido orientados por Raquel Pan, a exemplo de um desenvolvido pela enfermeira Isabella Luiz Resende, publicado em 2021, sob o título “Representação da mulher vítima de violência por queimaduras pela mídia digital”, uma pesquisa documental com análise qualitativa dos dados disponíveis em notícias da mídia digital brasileira, publicadas entre 2018 a 2019.
Como resultado, o estudo mostrou que a região do país onde mais ocorreu casos de mulheres vítimas de queimadura foi a região Sudeste (47,17%), predominando o estado de São Paulo (22,6%), seguido de Minas Gerais (15,1%), Rio de Janeiro (5,66%) e Espírito Santo (3,77%).
Em 33,9% das notícias que relataram a área corporal atingida, o rosto foi a área mais afetada (72,2%), seguida do tórax (50%). “O que a gente vê na violência contra a mulher por queimadura é que ele não quer matar ela, ele quer desfigurar, com o pensamento de que se ela não for companheira dele, não vai ser companheira de ninguém”, frisa Raquel Pan.
Junho Laranja – A violência contra a mulher será o tema da campanha Junho Laranja 2025. “A escolha reflete o compromisso da SBQ em abordar questões que afetam diretamente a segurança e o bem-estar da sociedade. Sabemos que a violência doméstica e de gênero é uma das principais causas de traumas, queimaduras inclusas nesta estatística, e acreditamos que dar visibilidade a esse problema é fundamental para promover a conscientização e a prevenção”, frisa o presidente da SBQ, o médico Marcus Barroso.
Ele destaca que o objetivo da SBQ com isso é não apenas discutir a gravidade do tema, mas também buscar soluções integradas, em parceria com diversas instituições, para proteger e empoderar as mulheres, oferecendo suporte e medidas de prevenção.
Dia Nacional de Luta contra a violência à Mulher – A data foi criada em razão do movimento que ocorreu em 10 de outubro de 1980, onde várias mulheres se reuniram nas escadarias do Teatro Municipal, em São Paulo, e realizaram um protesto contra o aumento de crimes contra o gênero feminino no Brasil.
Em 2006, foi sancionada a Lei Maria da Penha, que trouxe mecanismos para combater e diminuir a violência doméstica. Desde então, muito se tem buscado fazer para reduzir os números de violência, porém, os dados seguem alarmantes. No ano passado, pelo menos oito mulheres foram vítimas de violência a cada 24 horas em todo o país.
Nesta quarta-feira (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o Projeto de Lei nº 4.266/2023 que aumenta a pena para feminicídio e para crimes cometidos contra a mulher.