- 28/06/2024
Por terem alguns sentidos e mobilidade afetados, podem ser resistentes a dor e não terem noção do perigo
As crianças estão entre as principais vítimas de queimaduras. Quando se trata de crianças com alguma deficiência, como autismo e síndrome de Down, os cuidados devem ser ainda mais rigorosos e específicos devido às particularidades comportamentais e sensoriais dessas crianças.
A médica cardiovascular Florence Assis, mãe de cinco filhos, sendo dois deles autistas, relembra o dia em que um deles sofreu uma queimadura doméstica. “A funcionária que trabalha conosco estava passando roupas e, em um momento de distração e curiosidade, ele queimou todo o dorso da mão no ferro elétrico, provocando uma pequena queimadura. Não precisou ir ao hospital, eu mesma fiz os primeiros socorros. Mas os cuidados agora aumentaram um pouco mais”, relata a médica.
Uma das características de crianças autistas é que nem sempre conseguem expressar a dor. “Ele estava se queimando e, se não fosse a funcionária ver, eu não saberia. Isso pode ser um problema, pois pode colocá-lo em situação de risco algumas vezes. Eles não têm noção de dor, de perigo, então o cuidado é redobrado, não só com as crianças autistas, mas também as que têm síndrome de Down, TDAH [Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade]”, destaca Florence.
A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), Kelly Danielle de Araújo, ressalta que a prevenção é sempre a melhor abordagem para promover um ambiente seguro para as crianças com deficiência. “70% dos acidentes acontecem dentro de casa, os mais acometidos são as crianças, assim como aqueles que têm mais chance de evoluir. Então, tem que ter cuidado com as tomadas, carregadores de celular, forro nas mesas, é fazer um check-up geral pela casa”, recomenda.
Atendimento psicológico
O atendimento psicológico para as vítimas de queimaduras é essencial durante o tratamento, oferecendo apoio fundamental para o enfrentamento da dor física, emocional e até mesmo existencial.
“As queimaduras afetam o paciente de forma global e sistêmica. O evento que as provocou pode ser vivenciado como um trauma, muitas vezes marcando um antes e depois na vida dessas pessoas. O suporte psicológico é importante para resgatar sua subjetividade, desejos, história de vida e personalidade, que são aspectos que podem ficar em segundo plano durante a hospitalização”, pontua a psicóloga clínica da Unidade de Tratamento de Queimados do Hospital João XXIII, em Minas Gerais, Raquel Mieco.
A especialista destaca ainda que, como geralmente a hospitalização e a reabilitação de pacientes vítimas de queimaduras são longas, acabam provocando mudanças de rotina e até mesmo no planejamento de vida, o que leva a outros fatores como depressão, ansiedade e incertezas. “Muitos pacientes têm quadros prévios de adoecimento psíquico e podem apresentar mais dificuldade de adaptação ao tratamento e ao contexto de hospitalização, necessitando de maior suporte psicológico”, completa a psicóloga.