YD Comunicação - 01/11/2023
Por ser mais barato, o produto é utilizado no lugar do gás. Mas, ele é altamente inflamável, causa explosão e graves queimaduras
A operadora de máquina Lucicleide do Nascimento se queimou enquanto cozinhava com álcool combustível. Com a explosão do produto, ela teve queimaduras nas duas pernas, nos dois braços, no abdômen e no cabelo. Outra pessoa, que estava com Lucicleide na cozinha, teve queimaduras em uma perna e em parte do braço.
No Hospital da Restauração, em Recife, há muitos outros casos parecidos com o da Lucicleide. Segundo o chefe do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital da Restauração, Marcos Barreto, das 17 altas hospitalares, da última terça-feira (31/10), sete envolviam queimaduras com álcool. No mesmo período, dos 22 pacientes internados, 11 se queimaram com álcool, seis mulheres e cinco homens.
O botijão de gás não é acessível para todos, por isso, parte da população faz a troca por produtos mais baratos, como o álcool de posto de gasolina. Segundo Marcos Barreto, o álcool hidratado tem o poder explosivo muito maior.
"O grande problema é na hora do reabastecimento, muitas vezes a pessoa não vê que ainda tem uma pequena quantidade de fogo (a chama é azulada e clara), e a explosão atinge o depósito com álcool que está nas mãos da pessoa. Isso acontece cozinhando, na churrasqueira, colocando fogo no mato ou em outras situações", conta o médico.
Marcos Barreto conta, ainda, que a explosão, geralmente, atinge o rosto, os braços e as roupas de quem está manuseando o produto. "Até a pessoa retirar a roupa pode levar de 10 a 15 segundos, tempo suficiente para queimar em profundidade", alerta.
Álcool 70 - Liberado no início da pandemia, em março de 2020, o uso inadequado do álcool 70 resultou em uma série de queimaduras. A Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) fez uma pesquisa, entre 28 de março até 30 de novembro de 2020, com base em dados de pacientes atendidos nos centros de tratamento de queimados de todo o Brasil, e identificou grande incidência de queimaduras por álcool no ambiente domiciliar, vitimando, principalmente, desempregados e crianças.
A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras, Kelly Araújo, diz que o álcool continua sendo a principal causa de queimaduras em muitos serviços. "O uso o álcool foi banalizado, ele foi parar na mesa ao alcance de todos, ao lado do fogão, foi utilizado no corpo e em muitas outras situações. Os acidentes aconteceram e continuam acontecendo", ressalta Kelly Araújo.