YD Comunicação - 27/09/2021
A especialização ainda é pouca ofertada no Brasil, mas é de suma importância para a ampliação do conhecimento profissional
A residência médica é um programa de pós-graduação para que os profissionais adquiram o conhecimento na prática, dentro de hospitais, com a supervisão de especialistas. Quando um médico tem uma especialidade, ele passou por uma residência. No caso de tratamento de queimaduras, esses profissionais aprendem mais com a experiência nos centros de tratamentos ou em cursos específicos, pois a oferta dessa especialização ainda é baixa no Brasil.
Atualmente, são ofertadas apenas três residências em atendimento ao queimado no País: Salvador (BA), Belo Horizonte (MG) e São Paulo (SP). O curso de Salvador, por exemplo, é o primeiro oferecido nas regiões Norte e Nordeste e começou em janeiro deste ano, no Centro de Tratamento de Queimaduras do Hospital Geral do Estado (HGE).
De acordo com o cirurgião plástico Marcus Barroso, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), coordenador do CTQ do HGE e supervisor do programa de residência médica em atendimento ao queimado do mesmo hospital, o interesse é pequeno, principalmente por parte do residente de cirurgia plástica, pois o tempo de especialização é grande. “São dois anos de especialização em cirurgia geral, três em cirurgia plástica, que são pré-requisitos para se fazer mais um de atendimento ao queimado”, explica.
Ainda, conforme o especialista, na formação do cirurgião plástico é obrigatória a passagem por um centro de tratamento, mas nem todo local possui um bem estruturado e com profissionais que estimulem o residente nesta área de atuação. “Aqui no nosso serviço, colocamos como atrativo a formação conjunta em microcirurgia reconstrutora. Área de atuação, também, da cirurgia plástica, que possui um maior apelo entre os residentes, possuindo poucos locais de formação no Brasil, no Nordeste menos ainda”, ressalta.
Para o médico, a oferta para esse tipo de residência deve ser ampliada e estimulada, pois é fundamental que haja o direcionamento do conhecimento, além de divulgar e fortalecer o trabalho dos CTQs e mostrar como funciona um bom serviço e as possibilidades de reconstrução existentes para o grande queimado, mas sem esquecer que é necessário ter oferta de trabalho em centros de tratamento de queimados e uma remuneração adequada.
“Aqui em nosso estado, batalhamos para que isso ocorra em nosso serviço, para que o recém-formado consiga um emprego com uma remuneração adequada, para que não precise ficar à mercê deste mercado da estética cada vez mais difícil”, pondera Marcus Barroso.
DUAS OPÇÕES NA REGIÃO SUDOESTE – A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) também oferece, há pouco tempo, a residência médica voltada ao tratamento de queimados, a primeira em Minas Gerais. Os selecionados atuam no Hospital João XXIII, gerida pela coordenadora do CTQ e da cirurgia plástica da unidade, Kelly Danielle de Araújo.
“Esperamos que para 2022 completemos as vagas, com maior divulgação neste ano, o que não foi possível no ano passado em Minas Gerais. Nosso estado tem déficit de centros de tratamentos de queimados e a política do estado tem se dirigido à criação de novos CTQs, o que torna mais importante ainda esse curso no cenário de Minas Gerais”, destaca Kelly.
Dessa forma, para a médica, é necessário “criar uma rede integrada de orientações do tratamento do queimado, com informações básicas para o atendimento de urgência e direcionamento adequado desses pacientes, com profissionais capacitados na ponta dessa rede, reproduzindo na cadeia as orientações e condutas”.
A terceira opção oferecida no Brasil é em São Paulo, o primeiro criado no Brasil, em 2013, na Escola Paulista de Medicina, no Hospital São Paulo. “O maior desafio é, de fato, a sensibilização do residente. O tratamento do paciente queimado é muito complexo e exaustivo, pois são pacientes com muitas demandas”, ressalta o cirurgião plástico Alfredo Gragnani Filho, também professor associado livre docente da disciplina de Cirurgia Plástica da Escola Paulista de Medicina (USP), responsável pela Unidade de Tratamento de Queimaduras do Hospital São Paulo/Unifesp, coordenador do laboratório de Cultura de Pele II e do programa de pós-graduação em Cirurgia Translacional da EPM/Unifesp.
Segundo Gragnani, o médico que faz o atendimento deve ter um interesse muito grande no tratamento de queimados, pois existem outras áreas da cirurgia plástica que são melhores remuneradas. “Esse estímulo dos residentes tem sido nosso trabalho incessante desde 2013”, frisa.
CURSO OFERECIDO PELA SBQ – A Sociedade Brasileira de Queimaduras prepara um curso de pós-graduação de especialização Senso Lato de “Especialização no atendimento a queimaduras para profissionais da área da saúde". O curso está programado para começar em 2022, no formato EAD, e terá o total de 360 horas.
Será realizado pela SBQ e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com registro no Ministério da Educação, e as disciplinas poderão ser validadas para curso de pós-graduação senso estrito de mestrado e doutorado.