- 25/09/2020
Brasil possui quatro bancos de tecidos e o processo de doação ainda é um tabu
Em 27 de setembro é celebrado o Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos, conforme a Lei nº 11.584, de 28 de novembro de 2007. O objetivo é conscientizar a população sobre a importância de ser doador. Poucos sabem, porém, sobre a doação de tecidos, mais especificamente, de pele. O procedimento pode aliviar o sofrimento de muitas vítimas de queimaduras.
Atualmente, a grande limitação ao uso de tecidos se deve a pouca oferta, ao pequeno número de bancos de pele existentes e pela regulação vigente. A Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) acredita na importância do procedimento e na necessidade de conscientizar a população, por isso, orienta e capacita os médicos sobre como usar os tecidos em pacientes com grandes feridas e apoia a conscientização da população para a doação.
“A política nacional de tecidos alógenos é essencial, pois ajuda a tratar as feridas, principalmente as dos grandes queimados. Os tecidos ajudam a cicatrizar, diminui infecções e complicações, além de tornar o tratamento mais barato. Incentivamos o crescimento da política para que possamos colocar o produto ao alcance de todos”, destaca o presidente da SBQ, José Adorno.
Ele ressalta que é necessário crescer a cultura de transplantação, aumentar a quantidade de bancos e de captação. “É política de grande impacto, temos que fazer crescer a cultura de doação de pele no Brasil e salvar vidas”, comenta. Atualmente, são quatro bancos de tecidos de pele no País: Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. O de Salvador está em processo de aprovação e o de Brasília está em fase de autorização do projeto.
Banco de pele – Conforme explica o cirurgião plástico, membro da SBQ, Pablo Fagundes Pase, em linhas gerais, o banco de pele é responsável pela captação, preparo, armazenamento e disponibilização da pele doada. Todos os pacientes que tiveram morte cerebral, que preencham os critérios para doação de órgãos, podem contribuir para o banco de pele, caso tenham o consentimento dos familiares. O médico explica que o processo de transplante de pele é muito eficiente, pois, além de representar um curativo de menor custo em relação a algumas alternativas do mercado, as lesões temporariamente cobertas permitem que o |
organismo economize energia e possa se recuperar mais rapidamente. “É um processo vantajoso, mas poderia ser mais comum no Brasil. Fatores tais como a necessidade de maior doação de tecidos, a escassez de bancos de pele e o desconhecimento técnico dos benefícios do aloenxerto limitam a maior difusão dessa prática”, destaca.
Propriedades do Tecido Alógeno - A pele processada vai funcionar como um curativo biológico, sendo utilizada em substituição aos tecidos carbonizados. O curativo biológico de pele humana tem diversas vantagens, inclusive do ponto de vista econômico, pois diminuindo o tempo de internação e agilizando a cicatrização, diminui os custos com cada paciente em leito hospitalar.
A pele alogênica possui diversas propriedades que a tornam singular na cobertura de lesões, como: promove uma função de barreira que limita a dissecação da ferida; limita a perda de água por evaporação; reduz a contaminação bacteriana. Dessa forma, a pele transplantada minimiza a dor, maior velocidade de fechamento das feridas e a promoção de cicatrizes de melhor qualidade.
Diferentemente de órgãos, como coração e pulmão, por exemplo, que têm curto prazo para serem transplantados, a pele humana fica guardada em substância chamada glicerol puro (glicerina a 99% de concentração) em refrigeradores (de 2 a 8 graus Celsius) por até dois anos. Quando algum centro precisa de pele, solicita ao sistema nacional, tal qual é feito com outros órgãos, e o banco envia em voo comercial. É tudo rastreado e sem riscos ao paciente que vai receber o transplante.