No Dia do Médico, presidente da SBQ fala da trajetória e requisitos para atuar com vítimas de queimaduras

- 18/10/2024

São Lucas, o padroeiro da medicina, nasceu em 18 de outubro. Razão esta de a data ser reservado ao Dia do Médico. No Brasil, quase 600 mil médicos têm registro profissional, segundo o Conselho Federal de Medicina, podendo atuar em cerca de 50 especialidades. É o curso mais concorrido em todos os vestibulares do país e uma das profissões mais bem remuneradas. 

No atendimento ao paciente queimado, é o médico que geralmente lidera as equipes. Para homenagear todos esses profissionais que lidam, diariamente, com a dor das vítimas e são responsáveis por aliviá-las, conversamos com o presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras, o cirurgião plástico Marcus Barroso.

Graduado em medicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, onde também fez mestrado em tecnologias em saúde, Barroso conta que sempre buscou se especializar em áreas que o permitissem oferecer um tratamento abrangente e eficaz, especialmente para aqueles que enfrentam desafios extremos, como as vítimas de queimaduras.

Dr. Marcus Barroso, nos fale sobre sua trajetória profissional.

Fiz residência médica em cirurgia geral no Hospital Santo Antônio das Obras Assistenciais Irmã Dulce durante três anos, fase crucial para me dar as bases técnicas e teóricas para lidar com casos complexos e desenvolver habilidades cirúrgicas refinadas.

A especialização em cirurgia plástica veio em residência médica no Hospital Edgar Santos, da Universidade Federal da Bahia. Depois, fiz estágio complementação em Queimaduras e Feridas Complexas no Hospital das Clínicas, na Universidade de São Paulo, com um ano de duração em queimaduras e feridas. Neste período, também me formei em microcirurgia. 

Esse caminho me permitiu atuar em uma área que exige não apenas precisão técnica, mas também um olhar humano e sensível para o sofrimento e recuperação dos pacientes.

 

Qual caminho precisa percorrer o médico que deseja atuar com pacientes queimados?

O primeiro passo é completar o curso de Medicina, que dura em média seis anos no Brasil. Após a graduação, o médico deve realizar a Residência Médica em Cirurgia Geral. Essa especialização oferece uma base sólida em procedimentos cirúrgicos e no manejo de traumas, inclusive queimaduras. Em seguida, o médico pode optar por fazer a Residência Médica em Cirurgia Plástica, que inclui o tratamento de queimaduras e a reconstrução de áreas lesionadas, sendo uma das especializações mais comuns para o tratamento de queimados.

Depois ele faz uma subespecialização em queimaduras. Alguns centros oferecem, onde o médico pode se aprofundar em tratamentos como balneoterapia, enxertos de pele e manejo de cicatrizes de queimaduras. 

Essa trajetória oferece a formação necessária para o manejo completo de pacientes queimados, desde o atendimento emergencial até o tratamento cirúrgico e acompanhamento da recuperação.

 

Onde esses profissionais podem atuar?

Após a formação, o médico pode trabalhar em unidades de queimados, que geralmente estão localizadas em hospitais de referência, tanto públicos quanto privados. 

É importante que o médico se mantenha atualizado por meio de congressos, cursos de especialização e capacitação, já que a área de queimaduras envolve avanços contínuos em técnicas de tratamento, uso de novas terapias tópicas e cirurgias reconstrutivas.

 

Que características pessoais o profissional precisa ter para atuar com este público?

O tratamento de queimaduras envolve desafios físicos e emocionais tanto para o paciente quanto para o médico. As principais características incluem empatia e sensibilidade, pois os pacientes com queimaduras, especialmente graves, enfrentam dor intensa, mudanças na autoimagem e fragilidade emocional. O profissional deve ser capaz de entender essas dificuldades e oferecer suporte emocional. 

Precisa ter resiliência  para lidar com situações difíceis, manter a calma e continuar motivado, mesmo diante de desafios; paciência, já que a  recuperação de queimaduras pode levar meses ou até anos; habilidade de comunicação para explicar de maneira clara e acessível os procedimentos, tratamentos e o prognóstico.

Além disso, precisa ter capacidade de trabalhar em equipe e controle emocional. Essas características ajudam o profissional a oferecer um tratamento eficaz, humanizado e integral aos pacientes queimados, que geralmente passam por situações de grande vulnerabilidade.

O médico tem uma agenda lotada e, ainda assim, o senhor se propôs a se colocar a frente de uma instituição como a SBQ, que tem uma agenda agitada também. O que te motivou a se candidatar a essa missão?

Fui movido por uma paixão profunda pela área de queimaduras e pela vontade de contribuir de maneira ainda mais significativa para o avanço do tratamento desses pacientes. Sempre me dediquei à medicina com o objetivo de proporcionar o melhor cuidado possível aos meus pacientes, mas acredito que, ao estar à frente da SBQ, posso ir além e impactar diretamente a comunidade médica e os milhares de pacientes que dependem de um atendimento especializado.

O que me motiva é a oportunidade de promover mudanças reais, de ajudar na capacitação de outros profissionais e de influenciar políticas públicas que possam melhorar tanto a prevenção quanto o tratamento das queimaduras no Brasil. Acredito firmemente que, com a união de forças, podemos elevar o nível da medicina de queimaduras, trazendo inovações, melhores práticas e ampliando o acesso ao tratamento de qualidade em todo o país.

Assumir essa missão também é uma maneira de retribuir tudo o que a área de queimaduras me proporcionou ao longo da minha carreira. Eu vejo na SBQ um espaço não só para desenvolver pesquisas e novas abordagens, mas também para fortalecer a comunidade médica e promover uma troca constante de conhecimento. Liderar a SBQ é uma oportunidade única de contribuir para o futuro da nossa especialidade e, acima de tudo, para o bem-estar de todos os pacientes que enfrentam o desafio das queimaduras.

Ao longo da minha carreira, sempre mantive um compromisso com a atualização constante, participando de congressos, cursos e iniciativas que me permitissem expandir meus conhecimentos e melhorar continuamente minha prática. Assumir a presidência da Sociedade Brasileira de Queimaduras foi um passo natural nesse percurso, pois me possibilita não apenas atuar diretamente com meus pacientes, mas também contribuir para a capacitação de outros profissionais e o avanço da nossa especialidade.

 

Qual é a parte mais difícil de ser um médico que atua com vítimas de queimaduras?

Lidar com o impacto emocional e físico profundo que as lesões causam nos pacientes. As queimaduras graves não afetam apenas a pele; elas trazem consigo dor extrema, sofrimento psicológico e mudanças drásticas na autoimagem e qualidade de vida. Ver o paciente passar por esses desafios diários, muitas vezes com longos períodos de recuperação, múltiplas cirurgias e processos dolorosos de reabilitação, é algo que exige muito equilíbrio emocional.

Além disso, há a frustração de que, apesar de todo o esforço médico e dos avanços da medicina, algumas sequelas podem ser permanentes, tanto físicas quanto psicológicas. A recuperação é, muitas vezes, lenta e complexa, e nem sempre é possível alcançar uma recuperação completa, o que pode ser difícil de aceitar tanto para o médico quanto para o paciente.

Outro desafio é a intensidade das decisões clínicas. Queimaduras graves podem ser extremamente imprevisíveis, exigindo decisões rápidas e precisas sobre intervenções cirúrgicas, tratamentos intensivos e manejo de complicações. Cada caso é único, e o médico precisa estar constantemente preparado para enfrentar situações de alta pressão.

Ainda assim, o maior desafio é manter o equilíbrio emocional diante de tanto sofrimento, ao mesmo tempo em que se mantém firme no compromisso de oferecer o melhor tratamento possível. Ver a resiliência dos pacientes e a sua recuperação, mesmo que gradual, é o que motiva a continuar, apesar das dificuldades.

 

 

 

 


 

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