YD Comunicação - 09/02/2022
Diversos fatores contribuíram para a diminuição dos doadores, entre eles a covid-19
A pandemia do coronavírus e a falta de informação ainda são fatores que contribuem para a redução na doação de órgãos, em especial de tecido, onde está inclusa a pele. Isso afeta os estoques dos cinco bancos de pele em funcionamento no Brasil, que estão baixos ou zerados.
A pele é importante curativo para pacientes com queimaduras graves e feridas complexas com extensas áreas de perdas cutâneas.
Segundo o diretor do banco de pele da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Eduardo Chem, até 7 de fevereiro de 2022, os estoques estavam zerados. Para ele, a baixa está ligada à pandemia, que aumentou o grau de exigência com os testes nos pacientes, já que muitos tiveram contato com o vírus da covid-19 ou com as vacinas recentes – em ambos os casos é necessário esperar mais de um mês para a captação.
Outro fator que ele destaca é a superlotação dos hospitais, dos blocos cirúrgicos, que acabou, muitas vezes, dificultando a retirada de pele. A falta de informação também dificulta. Segundo Chem, campanhas de conscientização deveriam ser realizadas cada vez mais.
No banco de tecidos do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo também houve uma redução importante, como conta o diretor André Paggiaro. “Em 2020, o estoque estava razoável e conseguimos sobreviver bem. Em 2021, principalmente no final do ano, e agora no começo de 2022, cheguamos a ficar dois ou três meses com o estoque zerado, sem ter pele para fornecer. Agora, comecei a ter alguns doadores novos, mas ainda longe de repor os estoques”.
O mesmo acontece em Curitiba, no Banco de Multitecidos Humanos, segundo a coordenadora técnica Maristela Dal Ray Baechtold Campos. Atualmente tem disponível em estoque somente 1.300 centímetros de pele.
O banco de pele do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP), que recebeu autorização para captação de pele humana no início de dezembro de 2021, ainda não está captando tecido. O coordenador do banco, Pedro Coltro, informou que estão montando uma equipe de captação.
TRATAMENTO – A pele alógena funciona como um curativo biológico que dura em torno de três semanas e é capaz de cobrir uma ferida temporariamente. O tecido protege a ferida contra infecções, reduz perdas de líquido e calor e minimiza a dor, estimulando a cicatrização.
A cobertura temporária com pele de banco pode salvar vidas. Foi o que aconteceu com Ingrid Milene de Souza que passou por cinco enxertos – um nos seios e mais quatro, um em cada mão e em cada braço – após um acidente com álcool 70%. Na tentativa de fazer fogo para cozinhar, o produto explodiu e queimou 37% do seu corpo. Ingrid passou pouco mais de um mês internada no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital da Restauração, em Recife.
DOADOR – A doação de pele é feita por pessoas que tiveram morte encefálica ou parada cardiorrespiratória, mediante autorização da família, como acontece na doação de órgãos. Com um aparelho chamado dermátomo, é retirada uma fina camada das áreas do dorso e membros inferiores.
O tecido é captado é encaminhado para o banco de tecidos para ser limpo, esterilizado e armazenado. Durante o processo, são realizados testes microbiológicos, ficando liberado para envio somente após ser garantida a ausência total de microrganismos. A distribuição da pele está sob regulação da Central Nacional de Transplantes (CNT) e das Centrais Regionais.
Para esclarecer melhor sobre a doação, a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) lançou a Campanha Permanente de Doação de Pele. O objetivo é informar a população sobre o uso deste material no tratamento de pacientes queimados e aumentar o número de doações.