- 20/05/2025
O atual representante Interinstitucional
Nacional da Sociedade Brasileira de Queimaduras, o médico José Adorno, foi
presidente da entidade por dois biênios, entre os anos de 2019 e 2022, tendo
pegado a fase crítica da pandemia de Covid-19.
Adorno precisou realizar muitas das
ações, assim como o mundo inteiro, pelo meio online, entre eles, um Congresso
Brasileiro de Queimaduras de forma remota. Apesar das dificuldades da época,
ele consegue enxergar um ponto positivo: a aproximação com profissionais do
Brasil e do mundo, já que a forma online quebrou as barreiras da distância.
Ele é o nosso penúltimo entrevistado na
série especial dos 30 anos da SBQ, em que essa história é contada na visão de
quem faz parte dela.
O senhor foi presidente da SBQ por duas
gestões seguidas, totalizando uatro anos. O que o motivou a presidir a SBQ e o
que acha que te levou à reeleição?
Eu acho que o que motivou foi, no
início, uma aproximação com os amigos que tratam queimaduras e que me
convenceram de que eu poderia contribuir em relação à Sociedade Brasileira de
Queimadura depois dos anos de experiência que eu tinha acumulado vivenciando
na unidade de queimadura do Hospital Regional da Asa Norte.
O senhor pegou o período da pandemia.
Quais foram os maiores desafios para atuar como presidente da SBQ?
Foi uma experiência bastante
exaustiva, mas, ao mesmo tempo, grandiosa pelas oportunidades que nós
tivemos de aproximar de todos os associados e também dos serviços de
queimaduras no Brasil.
Busquei sempre uma conversa mais próxima
daqueles que faziam queimaduras, formamos os comitês para que a gente
incluísse nas discussões a equipe multiprofissional.
Além disso, tivemos que desenvolver a instituição
propriamente dita, ou seja, criando uma equipe estruturada, como temos
hoje, com uma secretária executiva, um setor de comunicação
eficiente, tínhamos que fazer também a gestão do patrimônio do
sócio, oferecendo mais conteúdo do ponto de vista de
educação, formação, desenvolvimento de habilidades.
Qual o maior desafio dentro da SBQ?
Carecemos ainda muito de apoio
financeiro, por ser uma sociedade pequena. Saímos, inicialmente, de 180
sócios para mais de 400 sócios quando terminamos a gestão. Hoje
nós temos a participação de grande parte dos nossos associados, mas ainda
é insuficiente para sustentar todas essas ações. Dependemos ainda dos
congressos e jornadas, que é outro cenário importante de capacitação e
educação continuada.
E quais foram os maiores avanços que
conseguiram naquela época?
Foi exatamente uma aproximação da SBQ da
comunidade nacional, dos profissionais que tratam queimadura no
Brasil, das equipes multiprofissionais, dos centros de queimados. Nós
conseguimos fazer um mapeamento das unidades de queimado, que culminou com
o mapa do serviço de queimaduras no Brasil, em 2021, que nos deu uma
noção de panorama nacional, de como é que ocorriam os tratamentos de
queimaduras e dos principais centros de queimaduras, mas também
incluindo alguns serviços embrionários, alguns serviços não
estruturados. Isso não existia ainda no Ministério, porque a
política de tratamento de queimaduras foi meio que negligenciada ao longo
dos anos que antecederam.
Produzimos o primeiro boletim
epidemiológico de queimaduras no Brasil, junto com o Ministério da Saúde. Conseguimos
avançar junto com a colaboração do SIG Queimaduras, onde o Dr. Flávio é o
coordenador, uma plataforma importante em que a nossa parceria tem
desenvolvido ao longo desses anos uma contribuição grande no sentido de
fazer discussões mensais
Conseguimos evoluir com as ligas
acadêmicas, por exemplo, nós conseguimos produzir um manual de queimaduras
para estudantes, que hoje é uma referência bibliográfica
importante, inclusive adotada por alguns cursos de trauma, foi com
colaboração da SBQ.
Nós conseguimos, também, em
2022, (11:17) fazer o primeiro workshop de discussão da linha de
cuidado de queimaduras no ambiente SUS.
O que o senhor acha que mais mudou na
atenção às vítimas de queimaduras e, também, na questão da prevenção nos
últimos cinco anos?
A Sociedade Brasileira de
Queimadura é uma grande referência hoje em dia e isso nos dá
muito orgulho e prazer da gente poder contribuir com a melhoria do
tratamento de queimados em todo o sentido no Brasil, seja do ponto de
vista assistencial, técnico, científico e também institucional, apoiando a
formação de políticas e uma organização estrutural melhor dos nossos
serviços, que nós sabemos que nós temos muito que evoluir ainda.
Estamos crescendo bastante, vemos
cada vez mais centros de queimados sendo formados, mas nós temos que
constituir isso aí uma rede de atendimento integrada, seguindo
protocolos para que a gente tenha um tratamento de queimados no Brasil, que
a gente tenha protocolos distintos, seguindo aquilo que é a Sociedade
Internacional de Queimaduras do qual nós somos parceiros e muito
próximos,
O que representou na sua vida e na sua
carreira ter presidido a SBQ?
Representou a possibilidade de
compartilhar a minha experiência de queimaduras e também de conhecer os
outros profissionais no Brasil que tratavam queimaduras. Iisso para mim foi uma
experiência bastante importante e que cresceu do ponto de vista
profissional, do ponto de vista de gestão, de entender quais eram as
lacunas que nós tínhamos para evoluir no sistema único de saúde em relação
às queimaduras, visto que mais de 95% dos atendimentos em queimaduras no
Brasil é dado pelo SUS, e entender como é que nós poderíamos avançar.