YD comunicação - 11/10/2023
No Brasil, as queimaduras representam a quarta causa de morte e hospitalização, por acidente, de crianças e adolescentes de até 14 anos
Um mingau esfriando no prato sobre o armário. Uma mãe que virou as costas por segundos. O resultado: uma criança de dois anos com a barriga queimada. A cena descrita aconteceu há alguns anos com o publicitário Henrique Melo e fatos semelhantes são mais comuns do que se imagina. Nem todos, porém, têm a mesma sorte que ele, que de sequela ficou apenas com uma mancha no abdômen.
No Brasil, as queimaduras representam a quarta causa de morte e hospitalização, por acidente, de crianças e adolescentes de até 14 anos. A maioria das queimaduras ocorre na cozinha e na presença de um adulto. Segundo dados do Ministério da Saúde, só nos quatro primeiros meses de 2021, 6.409 crianças e adolescentes com menos de 15 anos foram hospitalizados no Sistema Único de Saúde (SUS) por esse motivo.
“Em nosso serviço, 28% das internações são de crianças de 0 a 12 anos. Nos últimos 10 anos, 50% dessas internações foram devido a queimaduras ocasionadas por escaldo, ou seja, líquidos quentes e 97% desses acidentes ocorreram dentro de casa, na cozinha. A segunda maior causa foram os acidentes causados por fogo 37%, e a grande maioria deles, 94%, tiveram o álcool como desencadeador”, detalha a cirurgiã plástica Cristiane Rocha, que atua na Unidade de Tratamento de Queimados do Hospital Estadual de Bauru (SP).
Ela destaca que é muito comum ouvirmos o relato que foi apenas um segundo de distração, um telefone tocando, o cachorro latindo, a outra criança chorando. “Esse pequeno descuido pode mudar para sempre a vida dessas crianças. O tratamento da queimadura, além de longo e dolorido, pode deixar sequelas para vida toda. Sequelas emocionais, físicas e estéticas”, frisa.
Para prevenir esses acidentes, não há outra receita: é atentar-se aos itens que oferecem riscos e eles estão por toda parte dentro e fora de casa. “Evite que as crianças frequentem a cozinha sem supervisão, pois é um local que oferece diversos perigos”, frisa a pediatra do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Geral do Estado (Salvador/BA), Luciana Sobral.
Como dica ela avisa: deixe os cabos das panelas sempre virados para dentro, evite manipular alimentos quentes com a criança no colo e mantenha armazenados produtos inflamáveis ou ácidos fora do alcance das crianças. A essa, a cirurgiã Cristiane Rocha também acrescenta: cuidado com forno, não utilize toalhas compridas nas mesas, não deixe álcool e fósforo ao alcance das crianças. Itens como ferro de passar, chapinhas e fios desencapados também precisam estar longe do alcance dos pequenos.
O trabalho de conscientização e prevenção feito por pais e escola também é importante. Neste quesito, as duas pediatras aqui citadas concordam que o uso do lúdico pode ajudar bastante, como ilustrações, filmes e desenhos.
Socorro – Como nem sempre é possível evitar acidentes, também é preciso saber como socorrer as pequenas vítimas para diminuir o risco de morte e as sequelas.
“Se o acidente for com líquidos quentes, é preciso resfriar imediatamente a região, com água a temperatura ambiente, para evitar que o calor continue queimando essas áreas e aprofunde a lesão. Cobrir a área com um pano limpo e levar imediatamente ao hospital”, orienta Cristiane Rocha. Ela diz, ainda que em acidentes com fogo, é importante abafar as chamas para apagá-las antes de resfriar a área.
A pediatra Luciana Sobral acrescenta que é preciso retirar as roupas e adereços como anéis e colares que estejam próximos à queimadura. “E nunca se deve passar, no local queimado, pasta de dente, creme, manteiga, borra de café, nem passar gelo. Também não pode estourar as bolhas, caso apareçam”, esclarece.
Cartilha – Há dois anos, a convite da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) do Distrito Federal, a Sociedade Brasileira de Queimaduras e a ONG Criança Segura Safe Kids Brasil se uniram para criar a cartilha “Casa Segura, Criança Protegida – Prevenção de acidentes domésticos com crianças e adolescentes”. Confira.