YD Comunicação - 01/07/2021
Há quatro unidades em funcionamento, bem equipados, mas que encontram-se com estoques em baixa
O uso de pele no tratamento a queimados pode representar a diferença entre a vida e a morte. Por isso, é tão importante a conscientização para que se aumente o número de doadores deste material. E, neste sentido, a Sociedade Brasileira de Queimaduras lançou campanha permanente para incentivar a doação.
A captação de pele é feita em pessoas que tiveram morte encefálica ou parada cardiorrespiratória e autorização da família. São retiradas finas lâminas, preferencialmente, das coxas, pernas e tronco posterior. Logo após a retirada, a pele é encaminhada a um banco de tecidos, iniciando-se o processamento e sua conservação em glicerol. Durante este processo, são realizados diversos testes microbiológicos, ficando a pele liberada para envio somente após ser garantida a ausência total de microrganismos.
No Brasil, quatro bancos estão em funcionamento e mais dois, sendo um em Ribeirão Preto e outro em Salvador, aguardam autorização para começar a funcionar. A distribuição do tecido está sob regulação da Central Nacional de Transplantes (CNT) e das Centrais Regionais.
O mais antigo em funcionamento é o Banco de Tecidos Humanos – Pele da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Atuante há 16 anos, em todo esse período, já foram feitos 550 envios de pele para hospitais de Porto Alegre, Caxias do Sul, Brasília, Ribeirão Preto, Belo Horizonte, Salvador, São Paulo, Florianópolis, Porto Velho, Limeira, Cuiabá e Lima (Peru).
“Nossa média anual é de 50 a 60 envios. Porém, neste período de pandemia, assim como aconteceu com a doação de outros órgãos, a de pele também reduziu bastante. E justo em um momento em que aumentou a demanda”, observa o cirurgião plástico e diretor do Banco de Pele da Santa Casa, Eduardo Chem.
O banco, que tem classificação ISO 7 e 8, conta com duas salas de processamento de tecidos totalmente equipadas e em funcionamento, sala de cultivo celular, antecâmara e uma sala para armazenamento de tecidos. A equipe é formada por uma supervisora de enfermagem e operações, três biomédicas do corpo técnico especializado, um auxiliar administrativo e um diretor técnico.
PARANÁ - Em Curitiba funciona o Banco de Multitecidos Humanos, administrado pelo Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM) desde abril deste ano. O banco tem como objetivo selecionar doadores, captar, processar, armazenar tecidos de procedência humana e disponibilizá-los para fins terapêuticos e científicos. O banco trabalha com tecidos cardiovascular, ocular, músculo esquelético e pele humana.
Em 228,86 m2 estão distribuídas as salas de recepção de tecido e outra de microbiologia; sala de processamento com quatro salas ISO 8 com cabines de segurança biológica e uma ISO 5; uma antessala de processamento; uma sala de armazenamento; uma sala de distribuição; e salas de apoio (materiais para captação, materiais estéreis, insumos e sala administrativa).
Da unidade saem peles para regiões de Paraná (Curitiba, Londrina), Santa Catarina (Florianópolis, Xanxerê), Minas Gerais (Belo Horizonte), Distrito Federal (Brasília) e São Paulo (Ribeirão Preto).
“Desde 2013, nossa maior capacidade de atendimento foi a captação de pele em 42 doadores no ano e hoje diante dessa pandemia nossos estoques estão reduzidos, no ano de 2020 tivemos apenas 4 captações de pele e até o momento de 2021apenas 2 captações de pele e atendemos 25 solicitações para enxerto de pele”, diz a coordenadora técnica do Banco de Multitecidos, Maristela Dal Ray Baechtold Campos.
São Paulo também conta com um banco de tecidos no Instituto Central do Hospital das Clínicas. Por lá, são salas de processamento, uma área de armazenamento e uma área de administrativo. Quatro cirurgiões plásticos, uma enfermeira, uma biomédica, um auxiliar de enfermagem e uma secretária. Atuam no banco.
Eles enviam pele para todo o Brasil e, inclusive, para países da América Latina conveniados ao Brasil para suporte em caso de calamidade. De 2018 para 2021, houve queda no número de doadores. Foram 19 em 2018 e apenas quatro em 2021.
O quarto banco de pele está localizado no Rio de Janeiro. Sua principal atribuição é a captação, assim como o processamento, armazenamento e disponibilização de lâminas de pele humana para os centros de transplantes.
História
O primeiro banco de pele do Brasil foi criado em 1956, na Unidade de Queimaduras Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A pele era armazenada por refrigeração a períodos curtos e qualidade variável. Não existia normatização específica.
Somente em 1997, o transplante de órgãos e tecidos humanos foi regulamentado no Brasil, por meio da Lei nº 9434. Porém, foi com a publicação da Portaria 2.600/2009, do Ministério da Saúde, que se começou a estabelecer normas específicas para o funcionamento dos Bancos de Pele.