- 29/01/2025
Uma criança, um acidente e um único pensamento: vou morrer! Era janeiro de 1990 quando a professora Angela Maria, na época com 8 anos de idade, foi vítima de uma imprudência. A tia pediu que ela segurasse uma lata com palha seca para fazer fumaça e matar moscas. Acendeu o fósforo, nada aconteceu. Então, jogou álcool, havia uma faísca e todo o fogo a atingiu, deixando-a com 100% do rosto e tórax com queimaduras de segundo e terceiro graus.
“Quando vi que eu estava sendo consumida pelo fogo, me lembro de ter visto um tanque com água e pedido minha tia para jogar água em mim. Eu só pensava na morte das amigas da minha irmã, que tinham falecido algum tempo com a casa que pegou fogo”, relembra Ângela Maria.
O socorro chegou e ela, que mora em em Cristalina (GO), foi levada para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), no Distrito Federal, referência em atendimento a vítimas de queimaduras. Durante o processo de internação, ela não podia ter nenhum acompanhante. Porém, a mãe e a irmã sempre estiverem presentes.
“Na época a gente ficava em isolamento. Eu só via as pessoas que iam me visitar pela janela, não podia ter aquele contato”, relembra, contando que pôde ficar com a mãe um pouquinho apenas na data do aniversário de 9 anos. Por isso, os profissionais do Hran se tornaram a grande família de Ângela.
Ela destaca a pedagoga com o mesmo nome dela, a quem chamava de tia Ângela. “Essa mulher transformou minha vida lá dentro do hospital, porque era um momento que eu me sentia mais feliz, era um momento que ela vinha dar as aulas. Com ela eu aprendi tanta coisa e sou muito grata”, conta.
Outra pessoa a quem ela chama de anjo é o médico José Adorno, que a atendeu já naquela época. “Ele cuidou de mim durante 30 anos, é meu médico amado”, fala, com carinho. Ainda hoje ela faz tratamento no Hran. Inclusive, em fevereiro fará mais uma cirurgia de enxerto para liberar áreas como tronco, mama, braço e pescoço. Apenas mais uma entre tantas outras que ela já fez desde o acidente.
“Quando me acidentei, fiquei dois anos dentro de um quarto de hospital. Chorava bastante, principalmente no dia de trocar curativos e no banho. Tenho vários enxertos”, conta ela, lembrando que a pergunta que os médicos fizeram para a mãe foi: ‘a senhora tem fé? Porque aqui, só um milagre!’. E é assim que ela diz se sentir, um milagre.
Desde então, se passaram 35 anos e as coisas não foram fáceis. A criança que gostava de brincar na rua, de repente, não podia mais ficar no sol nem tomar banho de piscina. Coisas que ela não pode fazer até hoje. Na adolescência, as piadinhas e o medo de ficar só provocaram nela o desejo de morte, foram algumas tentativas de suicídio.
“Não deu certo, graças a Deus. É importante não desistir. Hoje sou grata a Deus por ter me dado um marido maravilhoso, que me acompanha em todo esse processo, em todos os procedimentos e cirurgias, que me deu uma família”, diz. Mesmo com muita gente dizendo que ela não poderia ter filhos, pois a pele poderia não esticar na gravidez, hoje ele é mãe de dois rapazes, um com 24 anos e outro prestes a completar 21.
Atualmente, Ângela faz parte do departamento de formação continuada de professores da Rede Municipal de Cristalina. Graduada em matemática, especialista em física e pedagoga, com especialização em Docência do Ensino Superior, ela ainda está cursando mestrando em matemática pela Universidade Federal de Catalão.
Com tudo isso, ainda arruma tempo para fazer uma outra coisa que ela ama: cantar. “Eu amo adorar ao Senhor com minha voz”, diz. E completa: “vejo o mundo da minha visão. Depois que a gente passa por esse trauma, ela muda. A gente precisa se tornar uma pessoa mais forte para não deixar que os outros te machuquem”, finaliza.
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