YD Comunicação - 02/06/2021
O produto é altamente inflamável e pode colocar em risco a vida de pessoas
Agosto de 2020. Era para ser um dia feliz, de churrasco em família para celebrar o Dia dos Pais, mas acabou com um adolescente queimado em razão do uso inadequado do álcool. Ilquias de Lima Rocha, 12 anos, foi atingido por chamas quando um primo, de 15 anos, jogou álcool no fogo da churrasqueira. Ganhou queimaduras no rosto, axila e tórax. Ele passou por enxerto e curativos e ainda hoje faz fisioterapia para recuperar a mobilidade do braço.
O caso de Ilquias é apenas um entre centenas de outros que podem terminar até em morte. E os riscos não estão apenas na manipulação do álcool em churrasqueiras. Ele está presente sempre que o produto é usado e colocado em contato com chamas.
O risco foi aumentado após o álcool ter se tornado o principal aliado na prevenção à covid-19. No início da pandemia, com a escassez de álcool em gel, principal produto utilizado para higienização de mãos e superfícies, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda liberou a venda do produto na graduação 70% para o público em geral.
A liberação acendeu um alerta na Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), que desde então, passou a monitorar 45 Centros de Tratamento de Queimados (CTQs) do país. O resultado assustou: entre março e novembro de 2020, foram 700 internações por queimaduras com álcool. Isso, sem considerar os acidentes de menor grau, que não precisaram de hospitalização.
Estudo em fase final – A coleta dos dados dos CTQs gerou um estudo que está em vias de ser concluído. Foram observados os perfis dos pacientes queimados e para qual finalidade o agente etimológico estava sendo usado no momento do acidente.
“Foram feitas análises estatísticas e o trabalho está prosseguindo para descrição final, para saber qual é a correlação que existe entre a liberação do álcool 70% e como as pessoas estão se queimando. É um estudo multicêntrico importante e que pode ajudar bastante na condução da regulamentação da venda de produtos com risco de danos para a pessoa. Além de estabelecer campanhas de educação, prevenção e promoção à saúde”, conta o presidente da SBQ, José Adorno.
Fatores de risco – O brasileiro tem como hábito o uso de álcool para higienização de ambientes e utensílios, mesmo antes da pandemia. Em populações de baixa renda, o etanol ainda é muito utilizado para cozinhar, em substituição ao gás de cozinha que, por vezes, tem custo mais elevado.
De acordo com o vice-presidente da SBQ e coordenador de CTQ do Hospital Geral do Estado, na Bahia, esse é um grande problema social no Nordeste. “Acontecem queimaduras, principalmente, na face e nos braços quando eles vão reencher o fogareiro com álcool. A chama é clara e eles não percebem que ainda está acessa”, alerta.
A combinação álcool e criança também não deve existir. O cirurgião plástico e presidente da SBQ regional Distrito Federal, Ricardo de Lauro Machado Homem, alerta para não deixar o produto ao alcance dos pequenos. “ Deve-se acondicionar em um local arejado, de preferência alto para crianças não terem acesso”, frisa.
E ressalta: reservar o álcool para higienizar as mãos somente quando não tiver acesso à água e sabão. Outro alerta de Ricardo, após o uso do produto evitar se aproximar de chamas e não fumar.