- 27/09/2024
Maior órgão do corpo humano, a pele humana pode salvar a vida de pacientes vítimas de queimaduras. Desde 2021, a Sociedade Brasileira de Queimaduras atua no incentivo à doação, que está aquém das necessidades atuais do nosso país. O principal motivo é a falta de conhecimento da população.
“Assim como se pode doar rim, coração, córnea, é importante que se doe pele, porque é classificada como substituto temporários de pele, fundamental para tratar especialmente os grandes queimados”, frisa o médico José Adorno, membro da diretoria da SBQ.
Ele frisa que, com a pele, é possível tratar as feridas mais rápido, dando proteção e isso proporciona melhora clínica, diminuição de dor, melhora na qualidade do tratamento e ainda implica em economia de insumos farmacêuticos. “Você diminui custos. Além de melhorar todo o tratamento, diminuir a infecção, abrevia o tratamento do paciente, impactando, inclusive, no período de internação hospitalar”, complementa.
“A doação de pele é o início propulsor de toda essa cadeia. Então, nessa engrenagem toda, a decisão pessoal em doar pele o faz participar de toda essa cadeia de melhoria de seres humanos sendo tratados, de um mundo com mais sustentabilidade”, frisa Adorno.
DOAÇÃO – A retirada de pele é feita a partir de indivíduos com diagnóstico de morte encefálica ou parada cardiorrespiratória, respeitando a autorização familiar, como acontece com a captação de outros órgãos.
Uma fina camada de pele, com espessura de aproximadamente 1 mm, é retirada de áreas escondidas, como costas, coxas e pernas. Não causa sangramentos e não acarreta nenhum tipo de deformidade na aparência do doador. O material pode ficar armazenado por até dois anos sob refrigeração de 2 a 6°C.
Os bancos de tecidos são os responsáveis pela captação, preparo e distribuição das peles doadas. Atualmente, existem cinco em funcionamento no país: Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre; Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo; o Banco de Multitecidos Humanos, em Curitiba; e Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio de Janeiro.
Alternativa – Além da pele humana, o uso da membrana amniótica seria outra alternativa de substituto biológico de pele. Para ser utilizado, porém, ainda precisa de autorização. O pedido está em em análise na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), no Ministério da Saúde, desde 2021, logo após o Conselho Federal de Medicina autorizar seu uso.
Em julho, a SBQ participou do lançamento da Frente Nacional pela Aprovação do Uso da Membrana Amniótica em Queimados, formada por 13 entidades e instituições com o objetivo de agilizar o processo de aprovação. Do lançamento saiu um manifesto enviado ao Ministério da Saúde e a vários órgãos nacionais para assegurar que o procedimento possa ser implementado rapidamente.
A membrana amniótica é a camada mais interna da placenta, que produz o líquido amniótico, e normalmente é descartada no parto. Ela proporciona uma recuperação mais rápida e segura das células queimadas, e custa menos que os curativos convencionais.
Na tragédia da Boate Kiss em 2013, o curativo biológico foi autorizado excepcionalmente para tratar centenas de pacientes queimados, contando com a doação de membranas amnióticas de países vizinhos ao Brasil.
A discussão do tema está na programação do XIV Congresso Brasileiro de Queimaduras, que ocorre em Belo Horizonte até o fim dessa sexta-feira (27).