- 29/08/2024
Rhafrezzya Alves tentou suicídio ateando fogo em si mesma
Há cerca de 20 anos, quem conheceu Rhafrezzya Alves de Freitas teria todos os motivos para acreditar que ela seria um ninguém na vida. Ela chegou, literalmente, ao fundo do poço. Morando na rua, usando drogas o suficiente para tentar acabar com toda a dor que sentia ao ser ver cheia de cicatrizes de queimaduras que ela mesma provocou. Chegou a ser presa, ficou sem os dois filhos. Mas deu a volta por cima!
Hoje, psicóloga e gestora da Comunidade Terapêutica Feminina Elohin, em Senador Canedo (GO), Rhafrezzya usa sua história para mudar a vida de outras pessoas, em especial, usuárias de drogas e sobreviventes de queimaduras. E fala das suas dores sem sofrimento.
Quando tinha 22 anos de idade, Rhafrezzya tinha acabado de ter o primeiro filho. Sofrendo de depressão pós-parto, usava drogas e, em um momento de desespero, se banhou em perfume e ateou fogo. Foi o marido, à época, que a socorreu. Chegou ao pronto-socorro de queimaduras em estado gravíssimo, com 65% do corpo queimado.
"Fiquei na UTI durante 16 dias, precisei de muita doação de sangue e passei por várias cirurgias. Como eu era usuária de drogas, sentia muita abstinência e as medicações pareciam não amenizar muito minhas dores. A dor do tratamento era insuportável, eu só pensava em morrer, não via mais motivos para viver”, relembra.
Quando saiu do hospital, ela conta que não aceitava as cicatrizes. Veio a recaída das drogas e tudo piorou quando o marido morreu. “Fiquei em situação de rua, envolvida no tráfico de drogas para manter meu vício, fui presa e condenada grávida, tive meu segundo filho algemada. Abandonei com a minha mãe e me tornei uma verdadeira zumbi, levei tiro na cabeça, facada”, conta.
Mas uma frase que ela ouviu de uma médica quando ainda estava internada não saiu da sua cabeça e foi o que a motivou a pedir ajuda. “Ela disse: ‘queimadura é uma ferida, não é uma doença. Você pode ser o que você quiser”, e isso me levou de volta para casa. Fiz tratamento contra as drogas, internada por nove meses”, celebra.
A virada – Enquanto esteve internada, Rhafrezzya escreveu um livro de poesias “Consegui transformar minhas dores em poemas”, pontua. Quando saiu, procurou a médica que disse a ela a frase motivadora, a doutora Mônica Piccolo.
“Comecei a fazer parte do NPQ – uma ong goiana - onde consegui fazer algumas cirurgias reparadoras inclusive com expansor. A dra Mônica Piccolo me ajudou a entrar na faculdade. Já no primeiro semestre consegui bolsa integral em razão das boas notas e quando eu estava conseguindo já pagar a faculdade, abri mão da bolsa”, conta.
Já formada, fundou a Instituição Comunidade Terapêutica Feminina e hoje ajuda mulheres dependentes químicas a se livrarem do vício. “Dou palestras motivando mulheres a se amarem e se aceitarem como são”, diz.
Ela conta que hoje não vê mais as cicatrizes como uma deformidade. “Olho para elas e vejo o tamanho do amor de Deus por mim e o quanto fui forte. Aonde eu vou, levanto minha cabeça e percebo que as pessoas me olham com admiração”, diz ela, reconhecendo o tamanho da responsabilidade em ser uma mensagem de esperança.
Hoje, o filho mais velho dela a acompanha em todos os compromissos de trabalho, que incluem palestras e participação em podcast. “Ainda quero trabalhar na área de queimaduras e mostrar para as pessoas que é possível ser feliz e produtiva mesmo depois de sobreviver a um processo tão doloroso e ter marcas tão profundas”, finaliza.