YD Comunicação - 06/12/2021
Pessoas doam o tempo para ajudar e melhorar a vida de muitos
O trabalho do voluntário envolve olhar para o próximo e doar tempo e conhecimento. Quando o assunto é queimadura, o incentivo para o engajamento por melhorias no tratamento, campanhas de prevenção e ajuda ao próximo pode vir quando a própria pessoa ou alguém da família é vítima.
Foi o que aconteceu com a
pedagoga Alexandra Bilar, em 2011, em tratamento no ambulatório de sequelas de
queimaduras no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Nas semanas do tratamento,
ela começou a perceber a angústia e pouca informação sobre como lidar com a
nova condição de vida das pessoas que sofriam queimaduras. “Escolhi ser voluntária porque
quando me queimei me senti sozinha e sem orientação. Os recursos da internet
não eram tantos como são atualmente e não encontrei nenhum serviço estruturado
que estivesse ao meu alcance e pudesse me ajudar. Então, conforme ia
encontrando caminhos, compartilhava com os amigos e percebia o quanto aquelas
informações e orientações eram úteis”, conta. |
Com isso, a comunicação na sala de espera do ambulatório cresceu e ela fundou a Associação Nacional dos Amigos e Vítimas de Queimaduras (Anaviq). Hoje, além do acolhimento às vítimas, busca por políticas públicas, prevenção de queimaduras e projetos que venham recuperar e fortalecer a autoestima das vítimas.
Inclusive, foi durante o tratamento de reparação de sequelas de queimaduras que a professora e acadêmica de Direito, Tatiane Felix, se interessou pelo voluntariado, quando se deparou com descredenciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) no hospital que a tratava. “Eu me sensibilizei com os problemas sociais e financeiros dos queimados, organizei um grupo de pessoas que compartilhavam da mesma causa e dor fundando o Centro de Acolhimento aos Sobreviventes de Queimaduras e Feridas (Sobreviva), em Anápolis, Goiás”, lembra. Atualmente tem o trabalho voltado para a política pública e prevenção e tem uma casa de apoio que acolhe vítimas de queimaduras de todo país. |
Em 2005, a professora Ana
França se deparou com um caso de queimaduras dentro de casa, o filho de 10 anos
sofreu um acidente com a rede de alta tensão, em Brasília. Foi assim que ela
fundou a Associação de Prevenção e Intervenção de Queimaduras (Avance), da qual
é presidente. “Escolhi atuar junto à demanda de vítimas de queimaduras por
entender a necessidade dela”, relata. |
Gesto de amor – O interesse em ajudar o próximo surgiu na advogada Andréa de Lima Barbosa ainda na adolescência. Sempre engajada em movimentos de cunho social, o interesse na área de queimados veio após acompanhar um amigo que sofreu queimaduras no Maranhão. Como no estado não há um centro de tratamento de queimaduras (CTQ), ele precisou ser transferido para Goiânia.
“Foram cerca de dois anos de
tratamento hospitalar e ambulatorial, período que poderia ter sido reduzido,
caso tivéssemos conhecimento sobre o tratamento. Pela falta de informação,
passamos por situações dificílimas, que nos ensinaram bastante, e, agora,
queremos ser agentes de informação para que menos sobreviventes passem pela
dificuldade que passamos, para que o tratamento seja realizado de |
forma efetiva e eficaz no estado do Maranhão”, conta.
Assim, com a experiência, formaram a Associação Maranhense de Apoio a Sobreviventes de Queimaduras (AMASQ), com o objetivo de prestar assistência aos sobreviventes de queimaduras e mobilizar o estado do Maranhão, promovendo a prevenção às queimaduras.
Ainda na faculdade, a terapeuta ocupacional Rosa Irlene se envolveu com voluntariado. Ela foi selecionada para o programa Universidade Solidária, em 2001, e passou a integrar um grupo formado por acadêmicos em pedagogia, direito, biomedicina e terapia ocupacional. Os alunos participaram de vários projetos voltados para saúde e outros que visavam o bem da sociedade.
“Sou voluntária do Núcleo de
Proteção aos Queimados Assistência aos Sobreviventes de Queimaduras (NPQ), me
tornei depois da minha formatura e desenvolvi meu Trabalho de Conclusão de
Curso voltado aos queimados. Em 2006, no congresso de Fortaleza, fui convidada
para fazer parte da SBQ (Sociedade Brasileira de Queimaduras) regional de Goiás. Também sou voluntária do CampSamba e
da Amasq”, conta. A |
parceria com a Amasq surgiu após o tratamento de um dos diretores em Goiás.
Outro membro da SBQ que é bem atuante é o cirurgião plástico Luiz Philipe que se envolveu no voluntariado durante a residência médica. “Fiz muitas missões junto a uma ONG internacional que se dedicava a tratar crianças com fissuras de lábio palatinas e recebíamos crianças desassistidas de locais remotos e as operávamos”.
Desde então, participou de
outras atividades, até se envolver com o CampSamba, em 2016, ao qual se dedica
e é presidente. “A área das queimaduras foi escolhida porque é a história da
minha vida profissional e nela acabei descobrindo todas as mazelas deste
terrível trauma. Devido as suas características, leva a uma grande carência de todo |
tipo de atendimento e a necessidade de suplementação pelo terceiro setor”, conclui o médico.
Voluntariado no CTQ – A coordenadora do CTQ do Hospital Geral Dr. José Pangella de Vila Penteado, em São Paulo, Elaine Tacla, trabalha com queimados desde 1994. “Encontrei no voluntariado uma forma de buscar melhorias em âmbito social de cuidados de disseminação de conhecimento no voluntariado”. Ela também é presidente do Instituto de Políticas e Atenção em Queimaduras (IPAQ). Elaine Tacla conta que para ser voluntária dentro do CTQ, a pessoa passa por uma entrevista e vê situações de curativos e queimaduras para saber se pode lidar emocionalmente com uma vítima de queimadura.
Ela explica que, após a primeira etapa, o voluntário passa por um treinamento em relação a prevenção de infecções e de como se portar frente ao paciente queimado. “São inúmeras as maneiras de atuar dentro do CTQ, que pode ser alimentando o paciente, conversando, levando seu carinho ou participando de atividades lúdicas, como jogos e leitura de livros”, esclarece. |
O cirurgião plástico e coordenador do CTQ do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, Marco Almeida, conta que a sua história como voluntário surgiu há alguns anos, percebendo a estrutura e condições do CTQ local. Sem o apoio político, começaram a promover eventos para angariar fundos e investir em melhorias. Com o movimento, envolveram a população no processo, já que o CTQ é o único do estado.
“Esse era o nosso grande envolvimento desde o
início e a gente sentiu a necessidade de como fazer uma assistência mais
qualificada em termos de RH, estrutura e tecnologia esse foi o grande
motivador”, lembra. O médico também é vice-presidente da Associação de Voluntários Pró Queimados do RN e oferece um canal aberto para quem deseja se envolver em um trabalho voluntário. “Pode entrar em contato com o Pró-Queimados para ver como pode agregar força e energia para que a gente incremente o nosso trabalho assistencial”. |