YD Comunicação - 10/06/2021
Com as restrições, as pessoas passaram a estar mais tempo em casa, expostos a riscos diversos, entre eles, os de queimaduras
Com o objetivo de desacelerar a propagação do coronavírus, foram adotadas medidas de isolamento social e de cuidados com a higiene. Estando mais tempo em casa, as pessoas ficaram mais vulneráveis a acidentes domésticos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, eles cresceram 30% durante a pandemia, inclusive com queimaduras, devido ao uso do álcool 70%.
A Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) fez uma pesquisa, com base em dados de pacientes atendidos nos centros de tratamento de queimados de todo o Brasil, e identificou grande incidência de queimaduras por álcool no ambiente domiciliar, vitimando, principalmente, desempregados e crianças. Os dados foram colhidos entre 28 de março até 30 de novembro de 2020.
Conforme o presidente da SBQ, José Adorno, o cenário definido pela pandemia levantou um alerta sobre a possibilidade do aumento dos casos de queimaduras. Por isso, fizeram o estudo e intensificaram as campanhas de prevenção. “Teve grande número de internações por acidentes com álcool, foram cerca de 700 no ano passado. Teve estado em que o número representou um aumento de 40% desses casos de internação, como foi em Pernambuco. É um impacto muito grande”, destacou.
Somente no Distrito Federal, centro do país, em 2020 foram feitos 2.084 atendimentos no pronto-socorro e 305 internações por queimaduras, segundo a Secretaria de Saúde do DF. Do total de internações, 50 foram por álcool, sendo 44 adultos e seis crianças. Neste ano, de janeiro a abril, foram 717 atendimentos no pronto-socorro e 124 internações. Destas, 36 foram por álcool, sendo 32 adultos e quatro crianças.
O levantamento feito pela SBQ indicou, também, um grande número de queimaduras durante o cozimento de alimentos. Acredita-se estar relacionado à crise socioeconômica, já que o aumento do preço do gás de cozinha leva a buscar alternativas, elevando o índice de queimaduras por líquidos inflamáveis, dentre eles o álcool. “Teve grande aumento dos casos de queimaduras pelo uso do álcool na cozinha em Natal, em São Paulo. Estamos analisando cada região e buscar formas efetivas de prevenção”, observou José Adorno.
O estudo da SBQ demonstrou, ainda, uma inesperada participação do gênero masculino nesse tipo de acidente, responsável por mais da metade dos casos, apesar de normalmente o gênero feminino estar mais associado a queimaduras durante o preparo de alimentos e no ambiente da cozinha. A pesquisa sugere que o predomínio masculino encontrado pode estar relacionado com o aumento do desemprego durante a pandemia, que levou a população masculina para o ambiente doméstico.
ATENDIMENTOS AMBULATORIAIS NO BRASIL – De acordo com o Ministério da Saúde, houve uma elevação de 303% nos atendimentos ambulatoriais por acidentes domésticos durante a pandemia em pessoas de até 15 anos. A pesquisa comparou os registros de março e outubro de 2020 e de 2019. Os atendimentos passaram de 7.179 para 28.939.
A maior parte das ocorrências envolve lesões nas mãos, causadas por queimaduras, quedas e cortes. Somando os atendimentos hospitalares e ambulatoriais, foram contabilizadas 39.338 ocorrências em 2020 contra 18.525 em 2019.