YD Comunicação - 15/10/2021
Os Centros de Tratamento de Queimados (CTQs) é uma unidade, dentro de um hospital, própria para atender pacientes com queimaduras. Atualmente, são 76 em funcionamento no Brasil. Para mostrar a realidade de cada um, a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) iniciou uma nova coluna em seu site e redes sociais, em que dará a oportunidade dos chefes de CTQs falarem sobre suas unidades.
Apesar da evolução dos últimos 20 anos, os CTQs ainda enfrentam muitos problemas estruturais, de organização de equipes, de inclusão e implementação de tecnologias, fluxo e parâmetros de atendimento, insumos, recursos humanos, entre outros. Falar sobre as dificuldades enfrentadas é uma forma de chamar a atenção para mudanças.
A segunda entrevistada é Kelly Danielle de Araújo, coordenadora do CTQ Professor Ivo Pitanguy, do Hospital João XXIII, em Minas Gerais.
Como é a estrutura do CTQ, tanto física quanto de profissionais?
O CTQ Professor Ivo Pitanguy virou um complexo hospitalar de urgência, em que foi unificado três hospitais próximos, e ele está no oitavo e no nono andar do Hospital João XXIII. São 24 leitos de enfermaria no oitavo andar e uma CTI no nono andar, com nove leitos e um bloco cirúrgico. Se for uma criança, ela vai para o segundo andar, que é de unidade de terapia intensiva pediátrica. Quanto aos profissionais, é uma equipe multiprofissional, com cirurgião plástico, anestesista, fisioterapeuta, terapia ocupacional, nutricionista, farmácia, infectologista, enfermagem, são uns 200 funcionários no total.
Tem capacidade para atender quantos pacientes?
Temos de dois a quatro leitos dentro da unidade pediátrica, nove leitos de queimados para adultos, são 24 enfermarias para adultos e crianças. Precisamos de mais vagas, novos leitos em outros hospitais, pois a demanda lá é muito grande.
Quais as maiores dificuldades encontradas?
Nossa maior dificuldade é a sobrecarga de pacientes. No estado de Minas Gerais há a necessidade de abertura de novos leitos. Em 2000 saiu a portaria sobre a quantidade de CTQs por estado e em Minas deveriam ser cinco e não é nossa realidade. Atualmente, são três centros atuantes. O estado cresceu, diminuímos o número de leitos e a pressão é grande, pois atendemos além da capacidade. Outras são de material, instrumentos necessários, que é uma eterna luta. No entanto, o maior problema é a sobrecarga.
Com a pandemia, essas dificuldades foram potencializadas? O que mudou com a pandemia?
Menos pacientes chegaram no hospital, mas não por que diminuíram os acidentes, mas sim, por que as pessoas deixaram de procurar os hospitais com medo da pandemia. Mas ainda assim, tivemos vários casos, inclusive de acidentes com álcool e tentativas de autoextermínio, que aumentou muito na pandemia. Durante a pandemia também tivemos momentos de afastamento de funcionários e atendimento de casos de pacientes com covid-19. Utilizamos uma sala de isolamento desses pacientes, pois nossos leitos não são isolados.
Desde que entrou, conseguiu implementar algum projeto, mudar algum protocolo, enfim, fazer alguma alteração positiva no centro?
O positivo é o que nos move. Entrei no cargo em janeiro de 2019 e de lá para cá conseguimos dobrar o número de cirurgiões plásticos no CTQ e temos capacidade para atuar com duas salas simultânea, todos os dias, no bloco cirúrgico. Com a formação do completo hospitalar, a equipe da plástica foi reforçada e, com isso, estamos conseguindo fazer uma desospitalização de pacientes em final de tratamento para encaminhamento para os outros hospitais e que continuam com acompanhamento de qualidade. Também ampliamos a terapia ocupacional para mão, que também tem agora no ambulatório. Fazemos um levantamento diário de todas as necessidades do setor, dos leitos, dos pacientes, cada situação e trabalhamos para fazer um melhor aproveitamento e resolver as questões o mais rápido possível e da melhor forma.