YD Comunicação - 09/12/2021
A atuação é dividida em três especialidades: disfagia, motricidade orofacial e voz
Oficialmente, fonoaudiólogos não são obrigatórios em centros de tratamento de queimaduras (CTQ). Mas, na prática, eles compõem a maioria das equipes multiprofissionais. E a razão é clara: a importância deste profissional na reabilitação de vítimas de queimaduras de 2º e 3º graus.
Conforme ressalta a fonoaudióloga Maria José de Souza Barrem, membro do comitê de Reabilitação da Sociedade Brasileira de Queimadura (SBQ), a intervenção fonoaudiológica nos CTQs inicia-se ainda na fase aguda, em adultos ou crianças, de modo precoce e preventivo, atendendo pacientes com queimaduras de face e pescoço, pacientes com risco de disfagia, vítimas de lesões por inalatórias, traqueostomizados ou pacientes após extubações por período maior de 48h.
A depender da demanda fonoaudiológica apresentada pelo paciente, seja ela no contexto hospitalar ou em seguimento ambulatorial, o que se observa são intervenções mais frequentes em torno de três especialidades da fonoaudiologia: disfagia, motricidade orofacial e voz.
"O trabalho do fonoaudiólogo visa reabilitar alterações, como deglutição, as alterações vocais e motoras de mobilidade, tanto cervical quanto de face. O trabalho tem que ser feito embasado em evidências científicas. Existem trabalhos que falam como se avalia esse paciente, como trata, como reavalia para controle dos tratamentos porque é importante controlar de forma mensurável”, elenca a fonoaudióloga, também membro do Comitê de Reabilitação, Dicarla Motta Magnani.
Segundo as duas profissionais, a avaliação precoce das funções orofaciais (mímica facial, deglutição, fala e voz), ainda a beira leito, é primordial para reduzir as contraturas e retrações cicatriciais nessa região, evitando, por exemplo, a microstomia ou macrocélia, permitir maior mobilidade e equilíbrio miofuncional dos músculos responsáveis pela mímica facial, pela mastigação e fala, possibilitar a reintrodução da alimentação por via oral de forma segura e efetiva, redução do risco de broncoaspiração e manejo da disfagia, entre outras ações.
Especialização – As especificidades da fisiopatologia da queimadura exigem do profissional um conhecimento sobre etiologia da queimadura, processo cicatricial e articulação para desenvolvimento de um plano terapêutico com equipe multiprofissional.
Há alguns cursos de pós-graduação em motricidade orofacial que englobam a intervenção fonoaudiológica no paciente queimado, mas a grande maioria é apenas teórica. Há poucos cursos com a modalidade prática, como era o caso do curso de extensão "Curso avançado de funções da face", no Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que contava com a participação da fonoaudióloga Dicarla Magnani.
“Na USP, o aluno de fonoaudiologia, já desde o primeiro ano, tem acesso ao trabalho realizado com paciente queimado dentro do Hospital das Clínicas, tanto na parte teórica quanto prática. Tem também especialização dentro dos programas de aprimoramento e de residência do hospital, da parte multidisciplinar da fono”, ressalta Dicarla.
Além das especializações, Dicarla diz que atualmente há muita literatura com significância no assunto. Essas publicações dão um norte para o atendimento desses pacientes, direciona o profissional.
Conforme destaca Maria José, além de especializar-se, o profissional precisa estar disposto a articular com a equipe multiprofissional. “Os pacientes são críticos e com especificidades, é preciso articular com a equipe para que as ações propostas não impactem de forma negativa em outras áreas, atrasando a evolução do caso”, ressalta.
Ela diz, ainda, que o paciente queimado tem uma especificidade, que é a dor. “Quando questionam o que é mais difícil na atuação fonoaudiológica nesses pacientes, sempre cito a questão da dor, pois não é comum a atuação do fonoaudiólogo em pacientes com dor intensa e com lesões abertas, mas em contrapartida, a possibilidade de habilitação e reabilitação desses pacientes é o que mais motiva”, finaliza Maria José.